O uso de tecnologias digitais na agricultura já é realidade em diferentes partes do mundo. Entre essas inovações é possível citar aplicativos que permitem que agricultores monitorem pragas, técnicas hidropônicas para o cultivo de alimentos em regiões áridas e drones que avaliam o impacto de desastres naturais em plantações.

“A inovação agrícola é um elemento-chave que pode transformar radicalmente os sistemas alimentares, proporcionando oportunidades de negócios relacionadas com a agricultura, empregos para os jovens e mulheres rurais, e impulsionar o crescimento econômico nacional”, disse a diretora-geral adjunta da FAO para Clima e Recursos Naturais, Maria Helena Semedo.
A FAO, que é a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, defende a inovação como a força motriz de um mundo livre da fome e da desnutrição. Por inovação, a organização entende não só apenas o uso de novas tecnologias. É preciso utilizar produtos, processos ou formas de organização novos ou existentes. O resultado é o aumento da eficiência, da competitividade e da resiliência dos sistemas alimentares.
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Combate à fome
María Helena Semedo defendeu o uso da tecnologia como motor da erradicação da fome durante sua participação na Cúpula Mundial de Inovação em Alimentos Seeds and Chips, que terminou nesta quinta-feira (9) em Milão.
Na ocasião, a agência das Nações Unidas apresentou projetos que exploram novas técnicas de cultivo e de produção para melhorar a vida dos agricultores e a oferta de comida. 350 representantes do setor privado e organizações participaram do evento.
A diretora-geral destacou a importância de se pensar, criar e promover sistemas agrícolas mais sustentáveis. Segundo ela, é necessário “mudar a forma como cultivamos, compartilhamos, preparamos e consumimos nossos alimentos”.
“O mundo precisa de um pacto global contra a obesidade, que leve em conta os alimentos tradicionais e locais. A adoção de padrões globais de dieta saudável também reduziria a proliferação de dietas pobres que permeiam nossos estilos de vida modernos”, disse a especialista
A diretora-geral ainda destacou a atuação dos agricultores familiares, que, segundo ela, produzem mais de 80% dos alimentos do mundo e administram três quartos dos recursos naturais do planeta. Ao final de maio, a FAO vai lançar a Década da Agricultura Familiar da ONU.
Soluções africanas
No continente africano, a FAO já tem apoiado iniciativas que buscam justamente buscar soluções para erradicação da fome. Na África Subsaariana, por exemplo, o FAWEWS, um aplicativo móvel, ajuda os agricultores a identificar, monitorar e administrar a lagarta do cartucho, uma praga que se alimenta das colheitas. O aplicativo também tem atuado em partes do continente asiático e funciona sem internet.
A tecnologia Blockchain também tem ajudado pequenos agricultores de café na Etiópia. Eles participam do programa FairChain e, ao aplicarem a tecnologia, conseguem manter cerca de 45% do valor de cada xícara no próprio país, número quatro vezes superior ao das multinacionais.
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Já no Quênia, algas e pele de peixes têm sido utilizadas para fabricação de roupas e acessórios. Segundo a FAO, essa prática tem gerado emprego e renda para moradores de comunidades próximas do país, como a Turkana.
Showcase de tecnologia no Brasil
O uso de novas tecnologias na agricultura foi destaque na Agrishow 2019, feira realizada entre os dias 29 de abril e 3 de maio em Ribeirão Preto, interior de São Paulo. As inovações agrícolas responderam por boa parte dos R$ 2,9 bilhões em negócios movimentados no evento, que recebeu 159 mil pessoas. “Neste ano, esteve em destaque a conectividade e a tecnologia como aliadas para aumentar a produtividade e eficiência no campo e a incorporação de importantes segmentos da cadeia produtiva, como a área de insumos”, comemora Francisco Matturro, presidente da Agrishow.

Empresas dos mais variados setores apresentaram soluções tecnológicas para melhorar a produtividade no campo. Muitas dessas soluções eram voltados aos pequenos produtores. “Com a Agricultura 4.0, vivemos uma verdadeira revolução, através da robótica, inteligência artificial, internet das coisas que, embarcadas nas máquinas e implementos, estão mudando significativamente o cotidiano do agronegócio e a produtividade no campo”, diz João Carlos Marchesan, presidente do Conselho de Administração da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ).
A utilização de algumas ferramentas da agricultura digital podem, em alguns casos, reduzir em até 25% o consumo de combustíveis das máquinas utilizadas no campo. “Hoje o produtor brasileiro tem mais tecnologia que qualquer outro no mundo e se capacitou para gerenciá-la. Um exemplo é que entramos nos Estados Unidos oferecendo produtos que podem ser comparados aos implementados aqui já em 2007”, avalia o diretor de negócios internacionais da Solinftec, Emerson Crepaldi.
Hoje o produtor brasileiro tem mais tecnologia que qualquer outro no mundo e se capacitou para gerenciá-la
“Atualmente, os produtores rurais têm a conectividade e a Internet das Coisas (IoT), que ajudam no aumento da produtividade do campo, consequentemente na tomada de decisões e possibilitam o acesso e o envio de informações online da fazenda à sede, remotamente”, explica Eduardo Takeshi, gestor de Negócios de Segurança da Informação e Tecnologia da Informação da Oi. A conectividade permite ainda, segundo Takeshi, uma ação mais ágil e proativa em relação à prevenção de falhas, evitando desperdícios de recursos, além do combate a pragas, correção da acidez do solo e manutenção de máquinas e equipamentos.
De acordo com Mauro Brino Garcia, engenheiro da Verion, hoje o investimento do produtor é recuperado em um ano. “Com uso de tecnologia, há uma qualidade melhor de distribuição do adubo que gera uma economia de 10% do gasto do insumo. Isso representa uma redução de custo para o produtor de cerca 30%”.
“Ainda vemos muita fragmentação na aplicação de tecnologias no campo, refletindo negativamente no desempenho da indústria agrícola”, explica Bernardo de Castro, presidente da divisão de Agricultura da Hexagon. A empresa apresentou na Agrishow a HxGN AgrOn, uma plataforma que integra todos os sistemas já existentes.
“O uso de tecnologia é um diferencial e está ao alcance de todos. Existem opções para diversos públicos, seja pequeno, médio e grandes produtores. O investimento vale a pena pela relação custo-benefício, pois os produtos terão mais qualidade e controle e, estarão livres de doenças e pragas. A cultura irá se desenvolver melhor. No ciclo, o produtor absorve o aporte financeiro realizado”, finaliza José Antônio Picó, gerente de hortifrúti da Coopercitrus. A cooperativa organizou um espaço para apresentação de soluções inovadoras em estufas, irrigação, insumos, máquinas, produtos, serviços, além de orientação técnica especializada para o setor.
O uso de tecnologia é um diferencial e está ao alcance de todos. Existem opções para diversos públicos, seja pequeno, médio e grandes produtores
“Estados Unidos, França e Austrália já possuem modelos colaborativos de inovação como esse. A AgroAPI Embrapa é mais uma oportunidade concreta para impulsionar a agricultura digital no País, agregando mais valor à produção agropecuária brasileira”, conta Silvia Massruhá, chefe-geral da Embrapa Informática Agropecuária.
O acesso à plataforma poderá ser gratuito, para uma versão degustação, ou pago de acordo com volume de requisições de APIs.
Caminho para o desenvolvimento econômico
A temática “Segurança Alimentar: caminho para o desenvolvimento econômico” será discutida no 7º Fórum Brasil África, que acontece entre os dias 12 e 13 de novembro em São Paulo, e tem organização do Instituto Brasil África. O Fórum foi lançado oficialmente no último dia 7 de maio, na Strathmore University Business School, em Nairóbi, no Quênia. Mais informações no site: forumbrazilafrica.com