Em um terço dos países em desenvolvimento dependentes de commodities (onde vivem 870 milhões de pessoas), a renda real média é menor hoje do que em 2014. Isso inclui vários países grandes, como Angola, Argentina, Brasil, Nigéria, Arábia Saudita e África do Sul. A informação consta em um relatório lançado pelas Organizações das Nações Unidas (ONU) na semana passada.
O documento diz ainda que aumentou o número de pessoas que vivem em extrema pobreza em vários países da África Subsaariana e em partes da América Latina e Ásia Ocidental. Estimativas da ONU indicam que, para erradicar a pobreza em grande parte da África, seria necessário um crescimento anual per capita superior a 8%, em comparação com a taxa média de apenas 0,5% na última década.
A África, especificamente, passou por uma década de quase estagnação no PIB per capita e muitos países ao redor do mundo ainda estão sofrendo com os efeitos da desaceleração dos preços das commodities de 2014-16, o que resultou em perdas persistentes de produção e retrocessos na redução da pobreza.
Foto: FAO
O baixo crescimento do PIB é somado a uma série de outros fatores negativos que afetam a qualidade de vida das pessoas mais pobres. Entre esses fatores, estão a crise climática, as altas desigualdades sociais e os níveis crescentes de insegurança e desnutrição alimentar. “Os formuladores de políticas devem ir além de um foco estreito na mera promoção do crescimento do PIB e, em vez disso, buscar aumentar o bem-estar em todas as partes da sociedade. Isso requer priorizar o investimento em projetos de desenvolvimento sustentável para promover educação, energia renovável e infraestrutura resiliente ”, enfatiza Elliott Harris, economista-chefe da ONU e secretário-geral adjunto de desenvolvimento econômico.
Para a ONU, as soluções para um crescimento inclusivo estão na transição energética – com o uso de fontes de energia renováveis ou com baixo teor de carbono – e uma combinação mais equilibrada de políticas públicas. Essa combinação deve misturar crescimento econômico com uma maior inclusão social, igualdade de gênero e produção ambientalmente sustentável. “É preciso prestar muito mais atenção às implicações distributivas e ambientais das medidas políticas ”, conclui Harris.
Área seca emOuagadougou, Burkina Faso. Foto: Kay Muldoon/ONU
Otimismo para 2020
O Relatório da ONU afirma que é possível um crescimento global médio de 2,5% em 2020, mas um surto de tensões comerciais, turbulência financeira ou uma escalada de tensões geopolíticas podem prejudicar a recuperação. Para o secretário-geral da ONU, António Guterrez, esses riscos podem reduzir as perspectivas de desenvolvimento uma vez que incentivam políticas econômicas voltadas para o interior, em um momento em que, segundo ele, a cooperação global é fundamental.
Em um cenário negativo, o crescimento global desaceleraria para apenas 1,8% este ano. Em 2019, a economia global sofreu o menor crescimento em uma década, caindo para 2,3%. Apesar dos ventos contrários significativos, o Leste da Ásia continua sendo a região que mais cresce no mundo e o maior contribuinte para o crescimento global, de acordo com o Relatório. O crescimento em outros grandes países emergentes, incluindo Brasil, Índia, México, Federação Russa e Turquia, deverá ganhar impulso em 2020.
+ Leia o relatório da ONU (em inglês): https://nacoesunidas.org/wp-content/uploads/2020/01/WESP2020_Summary-Final_Web.pdf