A literatura nigeriana está em alta. Nos últimos anos, os escritores do país, sobretudo as mulheres, tem ganhado projeção internacional. Chimamanda Ngozi Adichie é talvez a escritora da Nigéria com maior projeção no momento. Contudo, uma nova geração de autoras tem chamado atenção do mundo por seus trabalhos sobretudo por trazer diferentes realidades femininas. 

Akwaeke Emezi

Akwaeke Emezi

Ọgbanje é uma palavra da cultura Igbo que significa um espírito intruso que nasce em uma forma humana, e que resultaria em uma criança com um terceiro gênero.  Akwaeke Emezi se identifica como ogbanje, ou seja, se considera uma pessoa não-binária.  

Em 2017, seu conto Who is like God ganhou o “Commonwealth Short Story Prize for Africa”, que premia os melhores textos ainda não publicados naquele ano. Seu livro de estreia, Água Doce (Freshwater), uma autobiografia ficcionalizada, foi lançado em 2018. A obra foi indicada ao Women’s Prize, fazendo com que Akwaeke fosse a primeira pessoa não binária a concorrer ao prêmio. O livro também foi “Escolha do Editor”, do New York Times Book Review e recebeu resenhas elogiosas de importantes publicações como New York Times, Wall Street Journal, New Yorker, Guardian e LA Times. 

“É vigoroso com uma linguagem sensível e contemporânea e ainda traz a discussão sobre os ‘eus‘ que temos”, comenta Aza Njeri, coordenadora do Núcleo de Filosofia Política Africana da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Essa ligação entre vida espiritual e vida material é, de fato, um dado importante e presente em muitas obras das literaturas africanas”, acrescenta Rodrigo Ordine Graça, professor de literatura africana da Universidade da Integração da Lusofonia Afro-brasileira (Unilab). 

Oyinkan Braithwaite

Oyinkan Braithwaite

Oyinkan nasceu e cresceu na cidade de Lagos, Nigéria. Porém, formou-se em Escrita Criativa e em Direito pela Kingston University, de Londres. Em 2014, foi indicada entre as dez melhores artistas no concurso “Eko Poetry Slam” em sua cidade natal.  No mesmo ano ela também participou da obra Icatha – The Soul Eater (Naija Stories Anthology Book 2)”, uma antologia de recontos de contos tradicionais da Nigéria. E em 2016, foi finalista do “Commonwealth Short Story Prize”.

Seu livro “Minha irmã, a serial killer” (My sister, the serial killer), além de ser indicado ao “Women’s Prize” foi também indicado como finalista no “The Booker Prize 2019”. Até agora,  a obra foi traduzida para 26 idiomas. Os direitos da adaptação para o cinema foram adquiridos pela produtora britânica Working Title, responsável por filmes como Billy Elliot e O Diário de Bridget Jones. 

 “Ele é bastante celebrado por sua narrativa. O livro em questão é bem humorado e assombroso”, afirma Aza Njeri, da UFRJ.“O livro teve uma ressonância muito grande inclusive fora do circuito das literaturas africanas, sendo pautado como um best-seller” comenta a professora Elena Brugioni, professora de Literaturas Africanas e Estudos Pós-coloniais na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). 

Para o professor Rodrigo Ordine Graça, as questões de identidade mostradas no livro são mais ocidentalizadas. Ele atribui isso ao fato da escritora ter morado durante muitos anos na Inglaterra. “A obra dela não debate diretamente questões políticas da Nigéria e isso aponta para, talvez, uma nova fase na literatura do país, onde a política, embora presente, não é o elemento central. O livro é muito mais sobre a dinâmica entre as irmãs e essa discussão, na obra, eu acho muito interessante”.

Diana Omo Evans

Diana Omo Evans

Romancista e jornalista, Diana Omo Evans nasceu e vive em Londres. Filha de mãe nigeriana e pai inglês, ela passou uma parte de sua infância em Lagos. 

Seu livro de estreia, “26a”, publicado em 2005, ganhou três prêmios: Orange Award para Novos Escritores,  Betty Trask Award e deciBel Writer of the Year. “Ordinary People”, seu terceiro romance, ganhou o prêmio South Bank Sky Arts Award. 

Como jornalista, Diana escreveu para publicações como Marie Claire, The Independent, The Observer, The Guardian, The Daily Telegraph, Financial Times e Harper’s Bazaar. Seu livro acompanha dois casais passando por uma crise, e reflete sobre sua protagonista de meia idade. O livro, que se passa em Londres, é ambientado durante a eleição de Obama. 

“Evans, das três, além de ser a mais velha, é a única autora que não é nigeriana, embora filha de mãe nigeriana. Acredito que essa configuração identitária está muito marcada no seu romance de estreia”, diz Rodrigo Ordine Graça.

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