À medida que o continente africano foi-se desenvolvendo e os africanos  ganhando mais conhecimentos em várias áreas do saber, estes rapidamente perceberam a importância da auto-sustentabilidade econômica, envolver-se no comércio intracontinental e criar um modelo de desenvolvimento pan-africano moderno. Embora difíceis de serem alcançadas, essas estratégias têm, deveras, o potencial de fortalecer as economias africanas e o seu capital humano, reduzir a sua dependência económica em entidades estrangeiras  e auxiliar os países africanos a cumprirem com a sua visão pan-Africana de “uma África integrada, próspera e pacífica, impulsionada pelos seus próprios cidadãos, representando uma força dinâmica na arena internacional”.

Com isso em mente, os líderes africanos apresentaram uma variedade de estratégias, de longo e curto prazos. Uma das mais importantes delas é a Agenda 2063 da União Africana (UA), que, de acordo com a própria UA, foi adotada “como a base para a transformação socioeconômica e integrativa de longo prazo da África”.

Além disso, para o alcance da “África que Queremos”, a UA também tem estado a promover o Acordo de Livre Comércio Continental Africano (AfCFTA). Recentemente, no dia 7 de Julho de 2019, o presidente nigeriano, Muhammadu Buhari, e o presidente do Benin, Patrice Talon, assinaram o acordo, deixando, assim, a Eritréia como o único país africano fora do acordo. A AfCFTA estabelece a maior área de livre comércio do mundo desde a criação da Organização Mundial do Comércio (OMC) em 1995. Como o Conselho de Relações Exteriores (Council on Foreign Affairs) sugeriu, o “AfCFTA cobrirá mais de 1,2 bilhão de pessoas e mais de US $ 3 trilhões no PIB”. Salienta-se ainda que, após a ratificação da Gâmbia, o Acordo Africano de Livre Comércio Continental (AfCFTA) entrou oficialmente em vigor em 30 de Maio de 2019.

Sede da União Africana em Adis Abeba, Etiópia (Tiksa Negeri/Reuters)

Embora a AfCFTA e a Agenda 2063 tenham o potencial de oferecer uma série de oportunidades para o desenvolvimento sustentável e o crescimento económico de África, acadêmicos alertam que nem todos os países africanos poderão beneficiar-se igualmente deste acordo de livre comércio. Além disso, as Nações Unidas recomendaram aos países africanos que, “além da redução tarifária e inclusão econômica, a África deve fazer muito mais. Ela deve melhorar a eficiência e conectividade da infraestrutura logística comercial, facilitar a movimentação de mão-de-obra e capital, eliminar barreiras não-tarifárias e harmonizar as medidas reguladoras e promover a integração dos Estados membros às cadeias de valor regionais e globais em África”.

Mesmo com os planos traçados pela União Africana, “estima-se que 20.000 profissionais altamente qualificados deixem o continente anualmente, entre eles cerca de 30% dos cientistas  africanos”, segundo relatou The Conversation, um meio de comunicação sem fins lucrativos.  Enquanto a guerra e a instabilidade política são considerados os fatores mais extremos, uma parte significativa está a emigrar a procura de empregos com “salários mais altos, melhores oportunidades, bem como um ambiente propício à pesquisa, em que a infraestrutura e o gerenciamento ajudem a impulsionar carreiras e o potencial de pesquisa”, acrescentou o The Conversation.

Agora, mais do que nunca, tornou-se claro que, para o continente africano atingir todos os objectivos que ele estabeleceu para si próprio, em primeiro lugar, os africanos precisam melhorar a sua liderança. Apesar de aprovar o Acordo Africano de Livre Comércio Continental e promover a Agenda 2063 da UA, a atual liderança política em muitos países africanos continua sendo questionável. Agitações sociais recentes e conflitos civis em países como a República Democrática do Congo, Sudão, Camarões, Nigéria, os ataques xenófobos na África do Sul, expulsões de imigrantes congoleses em Angola e outras questões demonstraram que é extremamente importante rever e melhorar a liderança de cada um dos países africanos, bem como a da União Africana para o continente poder alcançar as metas que traça para si mesmo.

Tendo entendido que existe a necessidade de mudança de liderança, urge respondermos a algumas questões-chave: que tipo de liderança os países africanos realmente precisam para alcançar a “África que queremos?” Como os africanos podem trabalhar efetivamente juntos? Será que as nações ocidentais permitirão que a África ganhe independência econômica? Se não, que tipo de liderança a África precisa para defender os seus interesses?

Certamente, as respostas a essas perguntas dependem de quem as responde e de onde essa pessoa vem. No entanto, atrevo-me a dizer que precisamos de líderes mais inclusivos e responsáveis, que demonstram um alto nível de competência cultural, mente aberta e mentalidade inovadora para permitir que a geração mais jovem floresça e contribua com as suas ideias. Além disso, a África precisa de líderes que sejam capazes de representar e proteger fortemente os seus interesses perante os parceiros internacionais e unir os povos africanos, independentemente das suas classes sociais, origens étnicas, identidade de gênero, afiliação política e religiosa.

“que tipo de liderança os países africanos realmente precisam para alcançar a ‘África que queremos?’”

Provavelmente, a África precise de mais líderes como Fred Swaniker. Considerado um dos líderes mais influentes em África, Swaniker é um empresário ganense e especialista em desenvolvimento de liderança, presidente e fundador da “African Leadership Academy”, fundador da “African Leadership Network”, “Global Leadership Adventures” e “African Leadership University” (ALU). Com os seus projetos, Swaniker reúne jovens de toda a parte de África e outras regiões e usa um “currículo de liderança individualizado e focado no estudante” para os capacitar com “habilidades de liderança do século 21 que permanecerão relevantes no futuro não obstante a rápida mudança global”, conforme informou a ALU, cuja principal missão é construir 25 campi em todo o continente africano e produzir 3 milhões de jovens líderes africanos até 2060.

Para Swaniker, “há um imperativo indiscutível de construir uma nova geração de líderes dinâmicos com as habilidades necessárias para serem eficazes e com os valores para garantir a transformação socioeconômica do continente”. Há também a necessidade de líderes mais eficazes, responsáveis ​​e visionários, capazes de promover políticas corretas para o continente responder positivamente aos problemas mais complexos dessa era, por exemplo, corrupção, nepotismo, mudança climática, pobreza e a fome.

Embora tenha ficado claro que a África precisa de rever a sua liderança caso queira alcançar os objectivos da Agenda 2063 da UA, também é importante reconhecer que alguns dos seus atuais líderes políticos têm sido excepcionalmente bons em liderar as suas nações para alcançarem níveis elevados de desenvolvimento humano e econômico, apesar de alguns fracassos. Por exemplo, o presidente Paul Kagame, de Ruanda, é, para muitos, um dos maiores e modernos exemplos de líder político africano de sucesso.

Considerado “um dos maiores líderes do nosso tempo” por Bill Clinton e chamado de “líder visionário” por Tony Blair, Kagame não só tem trabalhado arduamente para desenvolver o seu país, Ruanda, mas também também se tornou o líder prodígio, moderno e visionário da África. De fato, ele tem sido visto por muitos como o “rosto de uma nova narrativa africana, autoconfiante e economicamente vibrante, que enterra a passividade e a vitimização do passado”, sugeriu o The Guardian.

À medida que nos envolvemos neste tipo de conversações, apresentamos algumas questões e recomendações, é sempre necessário nos mantermos focados para que sejamos mais eficazes em encontrar as respostas corretas para várias questões que muitos países africanos enfrentam e prepará-los para responderem positivamente a desafios imprevisíveis.

Embora a maioria de nós tenha um bom entendimento de por que milhares de africanos arriscam suas vidas quase todos os dias para atravessar o Mediterrâneo e chegar à Europa ou a outras regiões, ainda precisamos entender quais acções concretas estão sendo tomadas pelos governos africanos e pela sociedade civil, para garantir a paz e estabilidade, melhorando padrões de vida em toda a África. Neste sentido, focarmos as nossas atenções na busca de possíveis soluções para muitos desses problemas é urgente.

Dada a atual luta para se desenvolver, os africanos deveriam confiar na liderança atual para trazer respostas positivas às questões de hoje? Quais são algumas outras maneiras pelas quais os africanos poderiam, efetivamente, promover o tipo de liderança necessária para a “África que Queremos?”

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