Ao contrário do que muitos possam pensar, grande parte da tecnologia que possibilita a quase instantânea comunicação internacional não é feita sem fio. Na realidade, 99% das comunicações transoceânicas são possibilitadas graças aos cabos submarinos que interligam os continentes. E são estes que passam a recriar uma rota que nas últimas décadas têm sido pouco explorada: o sul do Oceano Atlântico.   

Datados desde os anos de 1850, quando um cabo conectou América do Norte e Europa, eles se multiplicaram, e hoje são revestidos com fibras ópticas, para garantir maior durabilidade. Entretanto, por muitos anos, a comunicação do Brasil com o resto do mundo ficou dependente dos Estados Unidos, visto que todos os cabos brasileiros em funcionamento tinham uma “parada” nos EUA, para, então, irem a outros continentes.

Essa realidade já está em processo de mudança. Com a inauguração de novos cabos submarinos no Atlântico Sul, o Brasil passa a ter conexões diretas com a África e rotas alternativas para a Ásia e a Europa.

Em 2018, dois cabos passaram a ligar Fortaleza ao continente africano: o SACS (South Atlantic Cable System), que vai até Luanda, na Angola; e o SAIL (South Atlantic Inter Link), que alcança a cidade de Kribi, em Camarões.

Este mapa interativo mostra todos os cabos submarinos que conectam o mundo.

Para Adalberto Pessoa, presidente da Empresa de Tecnologia da Informação do Ceará (Etice),  já é possível perceber melhorias na conexão de brasileira com a África. “A capacidade de comunicação da África com o Brasil e vice-versa melhoraram substancialmente. Antes, para se ter acesso a algum conteúdo no continente africano, a demora ao acesso de informações era significantemente maior. Então, de fato, a conexão melhorou, e não só a conexão com a África, mas também com Europa”, explica.

Futuras conexões

Cabo SACS chegando em Fortaleza (Foto: Angola Cables)

Para os próximos anos, novos cabos de fibra óptica conectarão o Brasil com o resto do planeta. Já está em construção o Ellalink, um cabo que vai de Santos a Fortaleza para, assim, cruzar o Atlântico até Portugal e Espanha, com conexão em Cabo Verde. O desenvolvimento do projeto terá custo de mais de 200 milhões de dólares.

A conexão Brasil-África também será explorada com o SAEx (South Atlantic Express), que ligará a África do Sul aos Estados Unidos, com uma conexão no Brasil, com custo estimado em U$480 milhões e previsão de funcionamento para 2020. Em seu projeto, também inclui uma segunda fase, que vai do país africano até a Índia e Singapura, com custo de U$ 300 milhões. Essa conexão também oferecerá ao Brasil uma rota mais curta para a Ásia.

Posição privilegiada

Boa parte destes cabos submarinos passam por Fortaleza. Por sua localização considerada estratégica, a Capital cearense se posiciona como um hub para cabos submarinos. “Na verdade, a posição geográfica de Fortaleza é muito especial, e faz com que, não só na área de conexão de dados, mas também nas áreas portuárias e aéreas ela seja esse hub. A posição faz com que haja a minimização dos tempos de acesso e tráfego de dados envolvendo o Brasil e os outros continentes”, afirma Adalberto Pessoa.

Procurando explorar essa posição, a Angola Cables, operadora internacional de cabos submarinos e responsável pelo SACS e uma das investidoras do Monet (cabo do Google que conecta o Brasil aos EUA) está construindo um data center na cidade, uma estrutura de 3.000m² e tipo Tier III – padrão de certificação internacional. A empresa estima que este empreendimento, quando tiver em completa operação, poderá gerar 50 empregos diretos, 700 indiretos e imensuráveis empreendimentos digitais.

A estrutura também será neutra, ou seja, poderá receber qualquer cabo que chegar à Fortaleza, não apenas os da Angola Cables, posicionando o Estado do Ceará como importante hub internacional.

A Angola Cables e a Etice recentemente fecharam um acordo que permitirá que a empresa cearense tenha acesso à estrutura deste Data Center, criando condições para que a região se beneficie do moderno empreendimento. “A Angola Cables, com sua conexão internacional e investimento, e a Etice com a infraestrutura de comunicação de dados no interior do estado, fazem essa parceria bastante enérgica”, finaliza o presidente da Etice.

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