(CARLOS ANTUNES)

Atualmente, estima-se que haja entre 400 a 700 mil elefantes vivendo na África. Em 1979, esse número chegou a 1,3 milhão. Um terço dessa população foi dizimada entre 2007 e 2014. Essa matança desenfreada está ligada ao mercado ilegal de marfim. Gangues de caçadores chegam a receber US$ 1.100 pelo quilo do material. Embora o comércio internacional de marfim tenha sido proibido em 1989, ainda existe um florescente mercado negro que patrocina o abate de elefantes.

Alarmados com o risco de extinção das espécies e pressionados pelos ambientalistas, os governos dos países africanos aumentaram a vigilância e a punição dos caçadores de elefantes e também dos contrabandistas. Paralelo a isso, a comunidade internacional começa a fechar o cerco contra o comércio de marfim. O mais recente movimento foi o anúncio da China, que prometeu encerrar, até o final de 2017, todo o comércio interno e o processamento do material. Dados de organizações internacionais, como a ONG Traffic apontam que a China representa mais de 70% da procura mundial por marfim africano, material que sempre foi visto como símbolo de status no país, chegando a ser chamado de “ouro branco” por lá.

“Os traficantes de marfim acabam de perder um dos seus maiores mercados”, comemora Aili Kang, diretor executivo para Ásia da Wildlife Conservation Society. “Esta é uma grande notícia que vai fechar o maior mercado mundial de marfim de elefante. Estou muito orgulhoso do meu país por mostrar essa liderança que ajudará a garantir que os elefantes tenham uma chance de lutar contra a extinção”.

A organização World Wide Fund for Nature (WWF) também elogiou o movimento da China para uma proibição completa, mas convocou o território chinês de Hong Kong a apresentar um plano para acabar com seu comércio de marfim até 2021. “Com o mercado da China fechado, Hong Kong pode se tornar o destino preferido para os traficantes lavarem marfim ilegal sob a cobertura do comércio legal de marfim”, disse Cheryl Lo, oficial sênior sobre criminalidade de vida selvagem na WWF.

A maior parte do marfim de contrabando que parte da África transita geralmente pela Malásia, Vietnã, Filipinas ou Hong Kong antes de chegar ao destino final, China e, em menor medida, Tailândia. Por isso, existe um temor de que o fechamento do mercadochinês favoreça o crescimento de mercados informais em outros países asiáticos. O Vietnã, por exemplo, tem se tornado, sobretudo nos últimos dez anos, um dos principais mercados ilegais de marfim do mundo. Isso porque uma disposição da proibição do comércio de marfim no país asiático permite que qualquer marfim obtido antes de 1992 seja comercializado legalmente no país. Contudo, os comerciantes ilegais conseguem facilmente burlar a fiscalização.

Os turistas da China continental representaram cerca de 75% dos compradores. Embora o preço do marfim bruto seja o mesmo que na China(entre US$ 889 e US$ 1334 por quilo), os custos indiretos, como a mão-de-obra mais barata, tornam os itens de marfim mais baratos no Vietnã.

A ONG Save The Elephants denuncia a falta de observância da lei nas alfândegas vietnamitas e chinesas nas fronteiras terrestres e o pouco esforço do governo para impedir a venda em bate-papos on-line. “Devemos trabalhar em conjunto com os governos para evitar que os mercados surjam em outros lugares como o Vietnã”, enfatiza Iain Douglas-Hamilton, fundador e CEO da Save the Elephants. “Tailândia, em particular, tem feito um grande progresso fechando efetivamente o seu considerável mercado doméstico de marfim”, explica Richard Thomas, coordenador global de comunicações da ONG Traffic. “Também oferecemos apoio técnico para a China em seus esforços para fechar seu mercado doméstico”.

CONTABILIZANDO OS IMPACTOS

“A cada 15 minutos, um elefante é abatido devido ao valor de suas presas, e nesse ritmo elas desaparecerão para sempre em poucos anos”. A declaração é de Danny Auron, diretor de campanhas da plataforma online Avaaz, especializada em petições online. Para ser mais exato, a extinção definitiva da espécie pode ocorrer em apenas 9 anos. Os dados são do Great Elephant Census (GEC), a primeira grande contagem da espécie a usar métodos padronizados de coleta e validação de dados, resultado de três anos de investigação e a união de 90 cientistas e seis ONGS parceiras. Ainda segundo a pesquisa, a população estimada de elefantes de savana é de 352.271 nos 18 países pesquisados. Em 15 desses países, as populações diminuíram 30% entre 2007 e 2014 e a taxa atual de declínio das espécies é de 8% ao ano, principalmente devido à caça furtiva. “Se não podemos proteger a maior mamífero terrestre do mundo, o prognóstico para a conservação da vida selvagem como um todo é sombrio”, diz Mike Chase, cientista líder do projeto e fundador de um grupo de conservação de elefantes com sede em Botsuana chamado Elefantes Sem Fronteiras (Elephants Without Borders).“Minha esperança é que muitos países se unam para salvar os elefantes, como a China já fez, antes que seja tarde demais, declarou o filantropo Paul T. Allen, que investiu US$ 7 milhões no Great Elephant Census.

DESEQUILÍBRIO AMBIENTAL

Existem duas espécies de elefantes na África. Os elefantes da savana compõem a maioria em todo o continente. Os elefantes de floresta, por sua vez, são minoria e vivem nas regiões tropicais. Como os elefantes da floresta são um dos mamíferos reprodutores mais lentos do mundo, levará quase um século para se recuperar da intensa caça furtiva que sofreram desde 2002. As fêmeas da espécie só começam a reprodução depois de duas décadas e à luz somente uma vez a cada cinco a seis anos. Distinto do elefante africano do savana, o elefante africano da floresta é ligeiramente menor do que seu parente conhecido melhor e é considerado por muitos como uma espécie separada. Eles desempenham um papel vital na manutenção da biodiversidade de uma das florestas tropicais seculares de carbono da Terra. Os elefantes da floresta têm papéis ecológicos críticos nestas florestas, e muitas espécies de árvore confiam nos elefantes para dispersar suas sementes. O declínio contínuo do número e da extensão dos elefantes da floresta provavelmente levará a mudanças severas nesses ecossistemas, tornando seu status de conservação uma questão global significativa. A incapacidade de proteger os elefantes da floresta também prejudicaria as florestas da África Central, que são importantes para a absorção de gases causadores das alterações climáticas. “Salvar as espécies requer um esforço global coordenado. Não temos muito tempo”, alerta Fiona Maisels, pesquisadora da Wildlife Conservation Society (WCS).

(SIMONE ZWIRTES)

Geralmente o marfim é obtido ilegalmente na forma de pequenas presas ou presas cortadas em pedaços de 1 a 3 kg, enquanto os produtos finais na maioria dos casos são pingentes, jóias produzidas em massa e outros itens pequenos que são facilmente transportáveis.

Tanzânia, Gabão, Camarões, República Centro-Africana, Moçambique e República Democrática do Congo foram os países mais afetados pela caça de elefantes.

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