Women work in a vegetable garden in the village of Ndiama Peulh, near Touba, on 26 April 2019. The village is part of the initiative “1Million Cisterns for the Sahel”. The garden is watered with the cistern.

Em algumas semanas, os olhos do mundo vão estar voltados para Edimburgo, na Escócia, onde será realizada a COP 26, a principal cúpula de líderes globais para discutir as alterações climáticas e seus impactos ao redor do mundo.

Dados do relatório da Organização Mundial Meteorológica (WMO) das Nações Unidas mostram que 2019 foi o segundo ano mais quente já registrado e a década 2010-2019 foi a mais quente até então. As alterações na temperatura global resultam em eventos climáticos extremos, como enchentes, tornados, incêndios florestais e períodos de seca severos.

O impacto chega para todos, mas afeta, principalmente, quem já é socialmente mais vulnerável. Pequenos produtores agrícolas, por exemplo, se vêem desafiados a superar os problemas causados pelo aquecimento global. E cada região enfrenta desafios específicos.

João Paulo Alves, Coordenador de Projetos do Instituto Brasil África, avalia que as alterações climáticas não podem ser combatidas sem o fortalecimento de duas linhas de ação vitais atualmente: empoderamento juvenil e promoção da igualdade de gênero.

No cenário das Américas e Caribe, um intenso êxodo rural ocorrido nos subcontinentes da América do Sul e Central contribui para o agravamento da situação dos jovens.

“São subcontinentes onde 87% da população vive em cidades, se igualando a América do Norte e Europa. Então essas regiões passaram por um êxodo rural muito intenso e as cidades, apesar da industrialização, não estavam preparadas para receber esse contingente populacional vindo do ambiente rural”, explica Alves.

O coordenador afirma que este êxodo rural em massa gerou um cisma entre o ambiente rural e o ambiente urbano na América Latina e Caribe. “O ambiente rural é visto como um atraso e o urbano como sinônimo de sucesso. E muitos diálogos focados no empoderamento juvenil giraram em torno dessa temática porque o jovem precisa entender e superar essa ideia e começar a ver o campo como um ambiente viável para o trabalho e para a vida como um todo”.

Para que isso aconteça, é necessário a implementação de políticas públicas que permitam a empregabilidade no meio rural e um trânsito de pessoas para com campo de forma facilitada.  “Isso tudo deve ser feito para mudar a visão da população nessa relação entre campo e cidade. Que o campo passe a ser visto como um lugar possível para desenvolver uma vida como qualquer outra, ainda mais com tantas tecnologias disponíveis”, analisa Alves.

A Dra. Marcia Brandon, do Caribbean Center of Excellence for Sustainable Livelihoods, acredita que os jovens de hoje já começam a voltar os olhares para o cenário rural.

“Uma das questões que sempre tivemos muito cuidado, para evitar que as pessoas comprassem, é a ideia de que os jovens não se interessam pela agricultura. Realmente é um mito. E não sei por que continuamos dizendo isso. Agora, mais do que nunca, há muitos jovens no Caribe [no campo] (…) e muitos jovens criativos têm ido para as áreas rurais, você pode ver no Facebook, todos os dias: na Jamaica, em Belize, em Trinidad, há homens e mulheres jovens que se tornaram agricultores”

O Caribbean Center of Excellence for Sustainable Livelihoods é um dos participantes do ciclo atual de Comunidades de Prática desenvolvido pelo Instituto Brasil África. O programa reúne entidades da América Latina e Caribe para uma troca de experiências também com organizações dos países africano. A iniciativa é promovida em parceria com o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que reúne boas práticas e soluções rurais no Rural Solutions Portal.

Mulheres no campo

De acordo com dados da ONU, mulheres agricultoras possuem menos acesso que homens à terra para cultivo e tecnologias e insumos que ajudem na produção.

A Dra. Sandra Nespoio Bergamin, da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, organização que também participa das Comunidades de Prática, comenta sobre a relação entre a mulher e o campo.

“Nós fomentamos as organizações das mulheres em todos os estados onde [a UNICAFES] tem atuação. A partir do momento que temos uma rede, ela se estrutura a partir da demanda, necessidade e potencialidade que cada mulher tem na sua região”, explica.

Bergamin afirma que, apesar das diferenças regionais que o Brasil possui por sua extensão territorial, a união de forças acontece para garantir a participação feminina nos espaços. “Apesar de termos diferenças regionais muito grandes no Brasil, o que nos unifica são as ações que buscam construir momentos em que as mulheres possam ter a sua participação garantida nos espaços, seja pela formação das mulheres, seja pelo diálogo sobre desigualdade de gênero, seja pela conscientização sobre a violência contra a mulher”.

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