A bioenergia da cana-de-açúcar pode mudar a realidade social e econômica de milhões de pessoas em regiões pobres da África e da América Latina. É o que aponta um estudo realizado por pesquisadores de diversas instituições do Brasil e do exterior durante cinco anos que avaliou o potencial de expansão da produção de bioenergia da cana de açúcar em países da América Latina e África. Os dados foram disponibilizados no documento de 418 páginas intitulado “Sugarcane bioenergy for sustainable development”,  que reúne 33 artigos, de autoria de 60 pesquisadores.

Tanto a América Latina como a África  possuem condições bastante favoráveis para produção e são estratégicas para a expansão da bioenergia no mundo. Dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) apontam que existem cerca de 440 milhões de hectares de terra disponíveis globalmente para serem usados para produção de bioenergia até 2050. Mais de 80% dessas terras estariam localizadas na África e na América do Sul e Central, sendo que cerca de 50% dessas áreas estão concentradas em apenas sete países: três países africanos (Angola, República Democrática do Congo e Sudão) e quatro americanos (Argentina, Bolívia, Colômbia e Brasil).

A bioenergia poderia substituir o carvão, fonte de energia utilizada por 59 milhões de pessoas que vivem nos países da África Austral

Ao lado dos Estados Unidos, o Brasil é hoje referência na produção de bioenergia da cana de açúcar. Os dois países respondem juntos por mais de 80% da produção atual de biocombustíveis líquidos. “O Brasil é, de longe, o país com maior disponibilidade de terra para plantio de cana para produção de bioenergia. O país é um exemplo raro, caso atípico, de produção de bioenergia a partir da cana com alta produtividade”, afirma Luís Augusto Barbosa Cortez, professor da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e coordenador do projeto.

Contexto africano

A bioenergia poderia substituir o carvão, fonte de energia utilizada por 59 milhões de pessoas que vivem nos países da África Austral, onde 90% da população usa energia de baixa qualidade e em condições insalubres para cozinhar, segundo estimativa dos pesquisadores.

O estudo aponta, por exemplo, que em Moçambique, o cultivo de cana em 600 mil hectares – o que corresponde a menos de 3% da terra disponível para plantação de cana no país – poderia gerar  4,1 bilhões de litros de etanol e de 2,7 terawatt-hora (TWh) de eletricidade por ano, sustentando 3,3 milhões de empregos e aumentando em 28% o Produto Interno Bruto (PIB).

“Há terra adequada e disponível suficiente no país para expandir a produção de cana-de-açúcar, sem prejudicar outros usos, como a produção de alimentos e de ração animal. A visão de que a produção de bioenergia competiria com os alimentos é equivocada”, avalia o pesquisador Luiz Augusto Horta Nogueira, um dos autores do estudo.

A África do Sul é hoje o maior produtor de cana de açúcar do continente africano seguida pelas Ilhas Maurício, Malawi e Moçambique.

Com informações da Agência FAPESP

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