A Pandemia de Covid-19 é uma das grandes preocupações globais não apenas pelos impactos atuais na saúde pública, mas também pelos seus reflexos no desenvolvimento social e econômico de muitos países. A África Ocidental é uma das regiões que mais pode ser afetada, de acordo com a coordenadora do time de resiliência da FAO para as regiões da África Ocidental e do Sahel, Coumba D. Sow.

“Esta é uma região complexa, atingida por fome crônica, insegurança, mudança climática, ameaças de um surto de gafanhotos do deserto e agora pandemia. Ano após ano, cinco dos dez países no final do Índice de Desenvolvimento da ONU estão na África Ocidental”, afirma.

Coumba D. Sow Foto: FAO

Sow explica que, atualmente, cerca de 11 milhões de pessoas da região precisavam de assistência alimentar, a maioria devidos aos conflitos já existentes. Este número pode crescer para quase 17 milhões até agosto caso não existam respostas rápidas para a crise.

O retorno a uma realidade de insegurança alimentar global, em especial na África Ocidental, já vinha sendo apontado no Relatório de Segurança Alimentar da FAO de 2019 e no Relatório Global de Crises Alimentares de 2020. A pandemia pode acelerar essas previsões.

“A questão principal é que a pandemia está se expandindo durante meses cruciais para esta região, quando as pessoas precisam plantar, se mover com seus animais. Os agricultores precisam poder vender seus produtos atuais, mas também acessar campos e mercados para se preparar para a principal temporada agrícola de 2020/2021”, contextualiza Coumba.

O avanço da fome

Para o ex-Diretor Geral da FAO, José Graziano da Silva, as atuais previsões mostram que a pandemia de Covid-19 pode aumentar consideravelmente, em níveis globais, a quantidade de pessoas no mapa da fome. “É uma realidade que víamos há 20 anos”, diz ele.

José Graziano da Silva Foto: Instituto Brasil África

Graziano participou, na última sexta-feira (24) do webinar “Crise Alimentar: Consequência da Pandemia de Coronavírus?” promovido pelo Instituto Brasil África. “Precisamos aproveitar esse momento, que estamos todos em nossas casas, para construir um circuito local de produção e consumo de alimentos. Este é o momento para pensar em soluções que vão ser duradouras”, disse ele.

As ações da FAO

De acordo com Coumba D. Sow, desde o início da pandemia a FAO tem trabalhado com coleta de informações e realização de análises que servem como norteadores para ações no âmbito da segurança alimentar. Alguns países, inclusive, já atuam com base nos planos.

Em Burkina Faso está sendo lançado um programa de assistência imediata para que a população vulnerável de áreas urbanas tenha acesso a alimentos. Já no Senegal, a FAO tem apoiado ações governamentais tanto na conscientização da população quanto no apoio aos pequenos produtores afetados.

“No curto prazo, as prioridades são: apoiar as famílias vulneráveis afetadas pelo Covid-19 a acessar alimentos adequados; garantir que os pastores tenham alimento e água durante a atual estação seca e os agricultores tenham sementes para começar o plantio; garantir proteção social durante a estação de seca; e manter os mercados e cadeias de valor funcionais para que as pessoas possam comprar os alimentos de que precisam e a preços adequados”, finaliza ela.

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