Parna Jaú, Brazil
A Assembleia Geral das Nações Unidas adotou 2017 como o Ano Internacional do Turismo Sustentável para o Desenvolvimento. “A escolha é uma oportunidade única para fazer avançar a contribuição do setor do turismo para os três pilares da sustentabilidade: econômica, social e ambiental, aumentando a consciência sobre um setor que é frequentemente subestimado”, afirma o secretário-geral da Organização Mundial do Turismo das Nações Unidas (UNWTO), Taleb Rifai.
Os Parques Nacionais são as melhores representações do que pode ser considerado como Turismo Sustentável. Para a UNTWO, há inúmeros benefícios para uma região que possui um parque nacional. O mais óbvio é atrair visitantes. Porém, há imensas oportunidades no que diz respeito à sensibilização da comunidade, à revitalização da área e ao posicionamento do destino e ao compromisso com o desenvolvimento de uma região.
Fundada em 2000 por um grupo de conservacionistas, a African Parks é uma organização internacional sem fins lucrativos que visa reabilitar e gerenciar unidades de conservação. Atualmente, cuida de dez parques nacionais em sete países africanos, totalizando cerca de seis milhões de hectares. A ideia da organização é levar aos parques modelos modernos de gestão, protegendo a diversidade vegetal e animal das unidades e também buscando promover o desenvolvimento.
O modelo de gestão é parecido com o utilizado no Brasil, país que possui 326 unidades de conservação sob responsabilidade do governo federal, o que equivale a 9% do território. Os parques brasileiros são geridos pelo Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), uma autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente. Segundo o órgão, apenas 72 unidades de conservação possuem atrativos para visitação do público, como trilhas, estrutura para camping e atrações naturais, como cachoeiras, dunas e cavernas.
Chapa dos Guimarães, Brazil
EXEMPLOS AFRICANOS
Para o analista ambiental do ICMBio, Thiago Beraldo, a África tem bons exemplos de governança para parques nacionais. “Eu fiz um trabalho na Zâmbia em um parque chamado South Luangwa e eles têm modelos muito interessantes para a gente aprender, principalmente no que diz respeito à base comunitária e às concessões. Já o modelo da África do Sul possui uma visão empreendedora, pois as unidades são vistas como potenciais de arrecadação econômica”, explica. “Hoje em dia, no mundo, é muito difícil querer fazer conservação sem olhar para a sustentabilidade econômica das comunidades no entorno”.
Em 2015, como doutorando na Universidade da Flórida, Beraldo analisou a importância econômica dos parques nacionais do Brasil. Segundo ele, as unidades de conservação sob responsabilidade federal receberam mais de 8 milhões de visitas no ano de 2015. Estes visitantes gastaram R$ 1,1 bilhão nos municípios de acesso das unidades e geraram 43 mil empregos. O setor de hospedagem foi o mais beneficiado pela renda que os parques nacionais geraram. O setor registrou R$ 267 milhões em vendas diretas, seguido pela área de alimentação, com R$ 241 milhões. “Na minha pesquisa eu vi que temos de ter dois ambientes: o ambiente interno, o que a gente oferece de atrativo, infraestrutura e serviço; e o ambiente externo. O visitante quando escolhe um lugar pra ir, escolhe o destino turístico como um todo. Ele procura saber quais os atrativos ao redor do parque, como é o acesso, os serviços de hotelaria, restaurante. Tudo isso é considerado.”, conta.
No entanto, para potencializar os atrativos e promover o desenvolvimento local, é necessário ampliar a capacidade de gestão. No modelo brasileiro, o governo federal, através do ICMBio, oferece para a iniciativa privada parte dos serviços oferecidos dentro dos parques nacionais. Essa oferta se dá por concessão ou autorização. “É importante ter uma empresa operando um conjunto de serviços dentro do parque”, defende o presidente do ICMBio, Ricardo Soavinski. “Mas, sempre é preciso que o Estado gerencie o parque como um todo. Ou seja: a gestão é sempre pública. Não é uma privatização, e sim uma concessão de determinados serviços, com resultados claros do que precisa ser feito”.
Além de preservar a biodiversidade e incentivar o desenvolvimento econômico através do turismo, os parques nacionais devem ainda valorizar as comunidades tradicionais do seu entorno. “Não tem segredo. Basta oferecer um bom acesso e condições para que a iniciativa privada possa trabalhar com o setor público junto com as comunidades para ter uma melhor distribuição de renda”, diz Thiago Beraldo. Ao visitar Zâmbia, ele constatou que a qualidade de vida da população ao redor do parque de South Luangwa é superior ao dos moradores de outras regiões. “Eles criaram uma bolsa de desenvolvimento sustentável em uma região muito pobre do país, só através da conservação”, lembra. “E acima de tudo isso, a busca pela valorização e conhecimento da sociedade como um todo. Essas áreas guardam uma rica biodiversidade, paisagens fantásticas, prestam um serviço ecossistêmico para a sociedade que muitos nem conhecem todos os serviços.”, afirma Ricardo Soavinski.
Zakouma National Park, Chad
O POTENCIAL AFRICANO JÁ COMEÇA A VIRAR REALIDADE
Em termos econômicos, muitos países da África, especialmente na região Subsariana, têm se beneficiado do forte crescimento do turismo nos últimos anos. E existe bastante espaço para crescimento. Isso porque a participação da África no mercado mundial do turismo ainda é relativamente modesta, com apenas 3% das receitas e 5% das chegadas internacionais globais, segundo informações da UNWTO. Contudo, o turismo no continente apresentou uma taxa média de crescimento anual de 6,1% ao ano entre 2005 e 2013, segundo os dados disponíveis mais atualizados. Durante o mesmo período, as chegadas cresceram de 35 milhões em 2005 para 56 milhões em 2013.
As receitas do turismo para África em 2013 atingiram US$ 34,2 bilhões. Por outro lado, o tamanho do mercado global do turismo de vida selvagem foi estimado em 12 milhões de viagens por ano e está crescendo a uma taxa de cerca de 10% anuais, o que justifica por si só o investimento em parques nacionais. O Continente africano possui, em todo o território, mais de 60 parques nacionais maiores de 100 mil hectares. Se bem administrados, estes parques podem levar mais empregos para as comunidades ao redor, tornando-se, muitas vezes, a principal forma para promoção de desenvolvimento de uma região.
Os moradores das regiões protegidas podem atuar como empreendedores na indústria do turismo (hotelaria, alimentação ou receptivo) ou fornecedores de bens e serviços para essa cadeia. Dados da UNWTO colhidos em 14 países durante o ano de 2015 apontam que uma típica excursão de observação da vida selvagem no continente africano tem um número médio de 6 participantes, que ficam em torno de 10 dias em cada local e consomem US$ 433 por dia.
As receitas de áreas protegidas desses 14 países somaram US$ 142 milhões por ano. Umas dessas áreas compreende o circuitosul de Serengeti-Ngorongoro, na Tanzânia, que recebe 300.000 turistas por ano no trecho de 300 km entre Arusha e Serengeti, movimento responsável pela metade da receita com o turismo do país. Ao longo do circuito há cerca de 3.500 embarcações e barracas de souvenirs que empregam 7.000 vendedores e 21.000 artesãos. Estima-se que 19% da receita vá para moradores pobres.
NO BRASIL, BOA AVALIAÇÃO E ESPAÇO PARA CRESCER
No Brasil, quatro parques nacionais operam com concessões e, no geral, são parques bem avaliados pelos visitantes e pela gestão. Os quatro parques são: Tijuca, localizada no Rio de Janeiro; Iguaçu, em Foz do Iguaçu; Fernando de Noronha, em Pernambuco; e Serra dos Órgãos, no Rio de Janeiro. Dos 8 milhões de visitantes anuais, quase a metade vão para os parques de Iguaçu e Tijuca. A meta do ICMBio é, nos próximos anos, operar com concessões em três novos parques nacionais: Brasília, Pau Brasil (na Bahia) e Chapada dos Veadeiros, em Goiânia.