Ameaçado de extinção, o elefante africano da floresta desempenha um papel de grande importância na biodiversidade africana. Um estudo internacional com participação de pesquisadores brasileiros concluiu que o animal promove mudanças na estrutura florestal e contribui para aumentar o armazenamento de carbono.
Normalmente tratado como um animal “jardineiro”, justamente por se alimentar e deixar sementes de diversas árvores pelas florestas, ainda não se haviam estudos sobre todos os impactos da ação destes elefantes pelas florestas africanas.
De acordo com a pesquisadora Simone Aparecida Vieira, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), o que chamava a atenção era que as florestas tropicais da África Central têm estoques de carbono maiores do que os da Floresta Amazônica, mesmo em condições climáticas e de solo semelhantes.
“Observamos que a presença do elefante em uma densidade de 0,5 a 1 animal por quilômetro quadrado aumenta a biomassa acima do solo em 26 a 60 toneladas por hectare da floresta. Os resultados sustentam a hipótese de que a presença deles pode ter moldado a estrutura das florestas tropicais da África e que, provavelmente, desempenhou um papel importante para diferenciá-las das florestas tropicais da Amazônia”, explica a pesquisadora.
Como é a ação do elefante?
Além de se alimentar dos frutos, o elefante pode se coçar, atropelar ou mesmo derrubar árvores localizadas próximas às trilhas que utiliza para cruzar a floresta. Essa ação reduz a densidade das mesmas ao longo do tempo.
A diminuição da densidade de árvores alivia a competição por água, luz e espaço entre elas, além de favorecer o surgimento de árvores maiores, com maior diâmetro e densidade de madeira e, consequentemente, mais carbono estocado na biomassa.
Essa mudança na estrutura das florestas tropicais africanas e na composição das espécies de árvores influenciada pelo animal também aumenta, em longo prazo, o equilíbrio da biomassa acima do solo, apontou o estudo. “A presença de elefantes nas florestas tropicais da África Central pode ter contribuído para explicar essas diferenças em relação à Amazônia em longos períodos de tempo”, contextualizou Simone Vieira.
Como o estudo foi conduzido?
Os pesquisadores envolvidos no estudo fizeram uso de um modelo computacional de dinâmica de ecossistemas (ED2 model). Capaz de rastrear a dinâmica da estrutura e da função do ecossistema em escala fina, o modelo simula a heterogeneidade horizontal e vertical da vegetação na sucessão florestal e, a longo prazo, a competição das plantas por recursos que levam à mortalidade. Além disso, analisa como eventos casuais de perturbação, como a presença de elefantes, podem influenciar a estrutura da floresta no curto, médio e longo prazo.
Após coletados, os dados foram comparados com duas florestas na Bacia do Congo, uma com elefantes, outra sem. Os resultados apontaram que a introdução dos elefantes causa um efeito temporário de redução na concentração de biomassa acima do solo da florestas, em uma escala de 125 a 250 anos, em razão do aumento da mortalidade de pequenas árvores pela ação do animal. O aumento e o sucessivo equilíbrio da concentração de biomassa acima do solo são atingidos entre 250 e mil anos depois da introdução dos animais.
O estudo contou com pesquisadores de universidades italianas, francesas e norte-americanas, além de brasileiros da Unicamp e Embrapa Informática Agropecuária.
Os riscos e o impacto da extinção
Sob ameaça de extinção, os pesquisadores também simularam os riscos da perda do animal. Os dados coletados mostraram que isso resultaria em uma diminuição de 7% da biomassa acima do solo e de até 3 bilhões de toneladas de carbono. A conservação dos elefantes pode reverter essa tendência de queda de serviço de armazenamento de carbono estimado em US$ 43 bilhões, apontam os pesquisadores.
“Nossas simulações sugerem que se a perda de elefantes continuar inabalável, as florestas da África Central podem liberar o equivalente a vários anos de emissões de CO2 de combustíveis fósseis da maioria dos países, potencialmente acelerando a mudança climática”, disse Fabio Berzaghi, pesquisador do Laboratório de Ciências Ambientais e do Clima (CEA), da França, e principal autor do estudo, em comunicado da instituição.
A população de elefantes da floresta caiu dramaticamente desde a colonização da África Ocidental, pelos europeus, quando os animais passaram a ser caçados para obtenção de marfim. Hoje, as espécies de elefantes diminuíram para menos de 10% de seu número original.
Com informações de Elton Alisson, da Agência FAPESP