A Organização Mundial de Saúde (OMS) preparou uma nova estratégia para conter o avanço do Ebola na República Democrática do Congo.

Desde que o surto foi declarado em agosto de 2018, as equipes de resposta à endemia  enfrentam dificuldades para controlar a epidemia por conta de ataques às unidades de saúde no leste do País. Conflitos armados e desinformação em comunidades já traumatizadas estão entre os maiores problemas. 

Em 2019, a OMS registrou cerca de 390 ataques. Os ataques mataram 11 e feriram 83 trabalhadores da saúde. Os ataques às unidades de saúde restringem severamente as operações das equipes de saúde, permitindo que o contágio por Ebola aumente.

Hamadou Boiro

Para tentar reverter essa situação, uma equipe de antropólogos sociais foi enviada às áreas mais críticas para entender as preocupações da população e preparar o caminho para que outros profissionais se envolvam na comunidade. Essa equipe é formada principalmente por cidadãos congoleses que conhecem a cultura e os costumes locais e falam o idioma local.

“Nossa principal vantagem é entender e simpatizar com a cultura. Em muitos casos, visitamos os líderes e suas comunidades primeiro para facilitar o engajamento e depois explicamos suas preocupações aos nossos colegas ”, afirma Hamadou Boiro, líder da equipe de antropólogos sociais da OMS. Segundo ele, líderes tradicionais e religiosos são uma parte importante do processo de engajamento. 

+ O atual surto de Ebola é o décimo do País e o segundo pior do mundo.

Comunidade no leste da RDC

Entre os assuntos tratados pelos antropólogos e os líderes locais estão questões políticas e religiosas.  “Alguns pensam que o Ebola foi inventado para que os estrangeiros pudessem ganhar dinheiro com ele. Alguns atribuem a doença à feitiçaria e outros suspeitam que o surto tenha sido uma desculpa para adiar a eleição presidencial de 2018 que foi cancelada em Butembo, Beni e Yumbi.”

“Se as equipes já tivessem começado com o apoio dos líderes tradicionais, sua experiência com a comunidade teria sido muito mais positiva”, disse Mwami Saidi Katwa, um dos líderes de Kalonge, Kivu do Sul, que foi visitado pela equipe de antropólogos da OMS há alguns dias.

Um outro fator que contribuiu para garantir o acesso dos profissionais de saúde é a falta de confiança da população. Cerca de 36% dos moradores das regiões mais atingidas não confiam nos agentes de saúde, um terço negou a existência do ebola e outros 30% não sabiam da doença. Mais de 80% dos entrevistados ouviram rumores sobre os centros de tratamento do Ebola, e muitas pessoas disseram que estavam com medo de morrer lá. Os dados são de uma pesquisa feita pela própria OMS.

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