Criada no Ceará em 1982 e com diversas atividades Brasil agora reunindo cerca de 600 mil membros, a Comunidade Católica Shalom mantém há 13 anos uma casa em Antsiranana, no norte de Madagascar. Considerado um dos mais pobres do mundos, o país insular africano tem 25 milhões de habitantes. A expectativa de vida é baixa – apenas 40 anos – e apenas 2% da população tem acesso à água encanada.

vanda santos

A casa de Antsiranana é coordenada há oito anos pela missionária baiana Vanda Santos, 46, que resolveu adaptar para a realidade local um projeto que já era realizado pela comunidade Shalom no Brasil.  “Quando eu cheguei aqui eu vi a carência das crianças. Existe escola pública. Mas não é como o Brasil. É preciso pagar um valor anual que para o povo daqui é um tanto caro. Muitas famílias não tem como pagar”, explica.

Isso foi o pontapé para que Vanda implementasse uma versão local do projeto José do Egito. “No Brasil as crianças vão pra escola em um turno e no outro vão pro projeto. As pessoas de lá ajudam a fazer os exercícios. As crianças têm aulas de canto, artesanato e religião”, compara.

Como em Madagascar as famílias não têm condição financeira para levar as crianças para a escola, a comunidade decidiu montar uma pequena escola, que já funciona há quase sete anos.  Divididas em três salas, 98 crianças participam das atividades em tempo integral durante os dias da semana. As atividades consistem no processo de alfabetização, além de aulas de artesanato e teatro e um grupo de oração.

Além de Vanda, outros seis missionários trabalham na casa: cinco brasileiros uma malgaxe. Aos sábados, eles atendem cerca de 150 crianças na vizinhança e contam com o apoio de pessoas da comunidade. “As mães, os vizinhos, nosso grupo de oração. Cada um procura ajudar um pouco”, comemora.  

Crianças e mulheres da comunidade

MÚLTIPLOS DESAFIOS

Para manter a casa em funcionamento, os missionários precisam enfrentar alguns desafios. “Não termos parceiros, para nos ajudar financeiramente”, lamenta Vanda. Segundo ela, o dinheiro ajudaria principalmente na alimentação das crianças, que acaba sendo um custo muito alto para os missionários. Contudo, o fornecimento de um lanche é considerado essencial porque isso representa, para a maioria das crianças, a única alimentação do dia. 

“Temos uma criança aqui que sempre leva algo para casa. Ela traz uma garrafinha descartável de plástico e o soco. Quando é arroz com carne moída, ela come a metade e leva a outra metade para casa, em um saquinho. Um dia eu perguntei o porquê dela levar para casa. Ela disse que era para dar irmão”, conta. 

Vanda revela que os familiares dos missionários também ajudam enviando um pouco de dinheiro. Mesmo assim, é difícil o dinheiro chegar até a casa, por conta do sistema bancário deficitário do país. 

“Eu tenho tantos sonhos”

Apesar da realidade difícil no país africano, Vanda ainda tem tempo para sonhar. Ela quer transformar a casa mantida pela comunidade católica Shalom em uma escola. “Uma escola de fato e de direito, mas que as crianças não precisem pagar.  Com currículo reconhecido, tudo reconhecido”, revela.  

E o sonho não para por aí. “O meu primeiro sonho é essa escola. O segundo é um ambulatório”, diz. “As crianças aqui são muito doentes. Não tem saneamento básico, não têm estrutura. Eu tenho tantos sonhos, que eu não sei nem o que te contar”, brinca. 

A ajuda que vem de longe 

Parte das demandas assumidas por Vanda e seus colegas recebem uma forte ajuda do Brasil. A Comunidade Católica Shalom organiza expedições regulares para Madagascar. A próxima expedição está marcada para novembro e vai acrescentar 24 pessoas à equipe de missionários que atendem na casa. 

“Aí vêm algumas pessoas na área de saúde, como médicos e pessoas que trabalham em outras áreas que passam cerca de duas semanas. Eles ajudam de uma forma maravilhosa”, desabafa Vanda. “Mas à parte dessas expedições, nós acolhemos pessoas que queiram passar dois ou três meses para nos ajudar de alguma forma. Porque aqui não falta trabalho”. 

Crianças do projeto durante a visita do Papa

Esperança restaurada 

O trabalho realizado pela comunidade Shalom em Madagascar foi reconhecido pelo Papa Francisco, que visitou o país em setembro deste ano e saudou os missionários e as crianças da casa de Antsiranana.

“Eu não estava na visita do papa, porque foi na época que eu estava no Brasil. Mas foi muito bom. Os irmãos que foram disseram que foi maravilhoso. Ele falou muito de ajuda mútua, do cuidado um com o outro. Do partilhar aquilo que se têm. Pra nós, ele deu uma injeção de ânimo muito grande né. Restaurou a nossa esperança. A nossa esperança foi, de fato, restaurada”. 

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