Alunos do YTTP no primeiro dia do curso com o presidente do Instituto Brasil África, João Bosco Monte

Aconteceu no dia 14 de setembro de 2107, na sede do Banco Africano de Desenvolvimento, Abidjan, Costa do Marfim, a cerimônia que deu o pontapé inicial para um programa que visa contribuir para o desenvolvimento socioeconômico do continente africano. Chamado Young Technical Training Program (YTTP), o programa vai treinar jovens africanos em instituições do Brasil nas mais diversas áreas do conhecimento, como Tecnologia da Informação, Saúde, educação, infraestrutura e indústria criativa. A primeira turma do programa, com apoio do próprio AfDB e da Embrapa, terá agricultura como foco. “Estou otimista de que este programa mude a fortuna dos jovens africanos”, declara Sidi Touré, ministro da Juventude e Emprego da Costa do Marfim. A África possui um contingente de 420 milhões de jovens de 15 a 35 anos. Assim, o protagonismo juvenil é essencial para atingir os objetivos de desenvolvimento econômico e sustentável do continente. O Brasil, como pólo de crescimento global emergente, possui conhecimento e experiência que os países africanos precisam para aprender em diversas áreas de especialização. “O Brasil fornece uma rica fonte de conhecimento e experiência que os países africanos podem aproveitar em vários campos de especialização”, garante Chiji Ojukwu, diretor de Agricultura e Agroindústria do Banco Africano de Desenvolvimento. “O setor agrícola, em particular, foco da classe inaugural do YTTP, é uma área onde o Brasil tem estado na vanguarda da transformação e geração de conhecimento. Ele conseguiu desenvolver com sucesso um importador líquido de alimentos para não apenas alcançar a segurança alimentar, mas também se tornar um dos maiores exportadores mundiais de commodities agrícolas. Esta revolução verde é um objetivo que os países africanos também procuram alcançar, daí a colaboração com o Brasil é altamente benéfica”. Para esta primeira etapa, foram selecionados 30 jovens de 18 a 35 anos, provenientes de 16 países. Eles receberão treinamento sobre a cadeia produtiva da mandioca, vegetal considerado crucial para a segurança alimentar de milhões de pessoas na África Subsaariana. O treinamento acontece em Cruz das Almas, Bahia, nas instalações da Embrapa Mandioca e Fruticultura, entre os dias 9 de outubro e 21 de novembro. “O Brasil tem vários produtos processados a partir da mandioca”, disparou o diretor-geral do Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA), Nteranya Sangina. “Meu sonho é ter maiores colaborações entre jovens brasileiros e africanos no setor de processamento da mandioca”.

A IMPORTÂNCIA DA AGRICULTURA

A idade média dos agricultores africanos é, atualmente, de 62 anos. Para a África alcançar a autossuficiência alimentar no futuro, é preciso construir uma nova geração de jovens agricultores devidamente qualificados. Dados do Banco Mundial revelam que a agricultura contribui com 32% para o PIB da África e proporciona emprego para 65% da força de trabalho no continente. Em muitos países, 85% da força de trabalho está empregada no setor agrícola. Esses dados, por si só, ressaltam a relevância socioeconômica da Agricultura. Por outro lado, eles apontam para um desafio ainda maior: a agricultura tem potencial para retirar o continente da pobreza e aliviar a fome, mas precisa aplicar com tecnologias avançadas e investimentos públicos e privados. Além disso, é preciso incentivar a população mais jovem. Estima-se que 38% dos jovens africanos estejam atualmente empregados no setor agrícola. “O YTTP se alinha ao programa ENABLE Youth, do AfdB, que se relaciona diretamente a duas das cinco áreas prioritárias: alimentar e melhorar a qualidade de vida para o povo da África”, lembra Hiromi Ozawa, Diretor Executivo do banco para o Brasil, Argentina, Áustria, Japão e Arábia Saudita. “E isso é apenas o começo”, assegura João Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África. Segundo ele, a perspectiva é de que o número de participantes aumente em dez vezes e chegue a 300 em 2018.

INOVANDO

A nigeriana Mary Joseph cresceu nos Estados Unidos e há cerca de dois anos abriu, em Nairóbi, uma startup chamada Farm Drive, uma empresa de análise de dados que ajuda pequenos agricultores a conseguir crédito nas instituições financeiras. “Nós classificamos fazendeiros e depois vendemos esses resultados para instituições financeiras para que eles possam fazer essas avaliações de risco”, explicou, em conversa com a ATLANTICO. O serviço é gratuito para os agricultores. A receita vem das instituições financeiras que agora podem aproveitar um mercado formado por 50 milhões de pequenos agricultores em todo o país. Ao longo de 2016, a empresa fez um projeto-piloto em parceria com uma instituição de microfinanças que ofereceu US$ 150 mil para cerca de 400 agricultores quenianos. “Queremos atrair mais instituições financeiras para que haja um pool maior de capital”, adianta Mary Joseph, que espera terminar o ano de 2017 facilitando crédito para 40.000 agricultores. Iniciativas como o YTTP buscam desenvolver jovens como Mary Joseph, que com seus vinte e poucos anos, consegue inovar setores estratégicos com conhecimentos adquiridos fora da África para melhorar a qualidade de vida de povos africanos. “Voltar a trabalhar na África, no setor de desenvolvimento, é algo que sempre foi uma paixão por mim”, conta. “Eu sou muito apaixonada não só pela Nigéria, mas por todo o continente. E quando você olha para a África como um continente, você precisa olhar para a agricultura, pois ela desempenha um papel importante na vida das pessoas”.

IGUALDADE DE GÊNERO

“O crescimento econômico da África será mais rápido e os resultados do desenvolvimento serão melhores quando assegurarmos a igualdade de gênero”, afirma Chiji Ojukwu, diretor do AfDB. “O Banco está totalmente empenhado em acelerar a paridade de gênero dentro da instituição e em todos os países membros regionais”. Segundo ele, a seleção dos participantes do YTTP a cada ano vai garantir pelo menos, 50% de participação feminina. “No âmbito da Agenda de Empregos para a Juventude, o BAD pretende criar 25 milhões de postos de trabalho e impactar positivamente um total de 50 milhões de jovens na próxima década. O YTTP contribuirá para este objetivo, proporcionando aos jovens as habilidades necessárias para serem empregados com remuneração e estabelecer seus próprios negócios”, aposta Chiji.

Share:

administrator