O número de países que se interessam pela expertise brasileira em projetos de cooperação técnica vem crescendo nos últimos anos. Isso acontece porque, baseado em soluções originalmente desenvolvidas para superar seus próprios desafios, o Brasil obteve êxito em diversas áreas, como redução da pobreza, desenvolvimento social, formação profissional, inovação técnica e regulamentação ambiental. Parceiros há mais de 50 anos no âmbito do Desenvolvimento Sustentável, Brasil e Alemanha iniciaram em 2010 uma agenda de projetos que beneficiam até hoje, países da África e da América Latina. O Programa de Cooperação Trilateral Brasil-Alemanha (CTBA) é executado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e pela agência de cooperação alemã GIZ.
“O engajamento da Alemanha no Brasil reflete nossa responsabilidade pelos bens públicos globais, em particular o combate às mudanças climáticas. Além disso, enfatizo também temas transversais como a importância de cooperar com o setor privado, a educação profissional e o combate à corrupção,” enfatizou Christoph Rauh, chefe da Divisão da América do Sul do Ministério Federal de Cooperação Econômica e Desenvolvimento da Alemanha (BMZ), em dezembro de 2017, quando a Alemanha firmou um compromisso de contribuir com 332,4 milhões de Euros para a realização de projetos no Brasil nas áreas de “proteção e uso sustentável das florestas tropicais” e, “energias renováveis e eficiência energética”.
Assinatura do convênio Brasil-Alemanha, dezembro de 2017
“A Alemanha é um dos mais importantes parceiros do Brasil no domínio da cooperação bilateral e na cooperação trilateral em favor de países em desenvolvimento. A contribuição feita pelo governo alemão, ao longo das últimas décadas, têm proporcionado o fortalecimento de capacidades nacionais e o alcance de resultados positivos em políticas públicas, em áreas como conservação de florestas tropicais, energias renováveis e eficiência energética, incluindo adaptação às mudanças do clima e desenvolvimento urbano sustentável”, ressaltou, na ocasião, o Embaixador João Almino, ex-diretor da ABC.
Projetos desenvolvem Gana e Moçambique
Um dos projetos promovidos pelo programa de cooperação Brasil-Alemanha busca aumentar a eficiência e qualidade da produção e processamento do caju em Gana.
Ao longo de um ano e meio de implementação do projeto, foram promovidos treinamentos sobre técnicas modernas de colheita, manuseio e processamento de caju no Brasil e em Gana, foram distribuídos mais de 150.000 mudas a agricultores em 17 distritos de Gana e enviados 5 clones de caju anão brasileiro tolerantes a praga e a doenças para experimentação em Gana.
Participantes do projeto Caju, em Gana
O programa também fortaleceu Instituto Nacional de Normalização e Qualidade de Moçambique (INNOQ). O projeto melhorou a situação geral da metrologia no país, bem como o sistema de qualidade e normalização.
Iniciado com um projeto piloto entre 2008 e 2010, as duas seguintes fases do projeto contribuíram para expandir as parcerias do Instituto com o setor privado, elevando os parâmetros em relação às normas internacionais de qualidade.
Durante a implementação do projeto o governo moçambicano investiu na construção de um novo edifício para o Instituto, sua equipe de funcionários passou de menos de uma dezena para cerca de 80 e entre 2011 e 2016 houve um aumento de mais de dez vezes no valor das receitas dos serviços de calibração e certificação do instituto.
Instituto Nacional de Normalização e Qualidade de Moçambique (INNOQ)
O fortalecimento institucional do Instituto Nacional de Metrologia de Moçambique, o desenvolvimento da gestão de riscos e prevenção de desastres naturais em Moçambique e a criação do Centro de Tecnologias Ambientais no Peru são os três projetos desenvolvidos até agora
A capacitação técnica de alto nível é um dos métodos de trabalho adotados pela GIZ. Iniciado em 2017, o programa de Desenvolvimento da Capacidade Humana (HCD), promoveu cinco cursos com onze diferentes instituições. Até agora, foram capacitadas 72 pessoas de Angola, Argentina, República Dominicana, Moçambique, São Tomé e Príncipe e Brasil. Os cursos utilizam a expertise de importantes organizações brasileiras, como o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
Potencial para novos projetos de cooperação na África
A parceria entre Brasil e Alemanha pode facilitar outros projetos na África. O assunto será discutido no Fórum Brasil África 2019 – Segurança Alimentar: caminhos para o crescimento econômico, que acontecerá em São Paulo nos dias 12 e 13 de novembro. Durante a programação do evento, que contará com empresários e representantes de governos do Brasil e da África, haverá uma sessão chamada Agricultura 4.0, cultivando a economia verde, que irá contar coma participação de Ulrich Sabel-Koschella.
Ulrich Sabel-Koschella
Koschella chefia a seção de Agricultura de Cadeias de Valor no Departamento de África da GIZ. Ele já realizou missões de curto prazo em mais de 50 países da África, América Latina e Ásia. Entre seus trabalhos, destaca-se a supervisão de programas de desenvolvimento rural no Malawi, no Zimbábue e em Ruanda. Também atuou como pesquisador no Instituto Internacional de Agricultura Tropical (IITA) na Nigéria.
Como palestrante, é esperado que o diretor da GIZ apresente os projetos que estão sendo realizados na África e o que ainda pode ser feito.
Brasil e Alemanha, parceiros de longa data
Brasil e Alemanha estabeleceram relações diplomáticas em 1871, logo após a Unificação Alemã e a criação do Império Alemão. Rompidas no contexto da II Guerra Mundial, as relações foram retomadas em 1951.
O relacionamento bilateral – alçado ao nível de Parceria Estratégica, em 2002 – é sólido e denso.
A Alemanha é o quarto maior parceiro comercial do Brasil. Desde as primeiras décadas do século XX, capitais alemães ajudaram a alavancar o desenvolvimento industrial brasileiro. Cerca de 1600 empresas alemãs hoje instaladas no Brasil respondem por cerca de 9% do PIB industrial brasileiro, sendo São Paulo uma das maiores concentrações industriais alemã fora da Alemanha.
O comércio entre os dois países havia mais que dobrado entre 1998 e 2008, passando de 8,4 bilhões de euros para 18 bilhões de euros. Em 2018, o comércio entre os dos dois países caiu para 16,9 bilhões de euros, segundo o Departamento Federal de Estatísticas da Alemanha (Destatis)