Primeiro lugar na quantidade de filmes e o terceiro maior faturamento do mundo, Nollywood, como é chamada a indústria cinematográfica da Nigéria, emprega mais de 1 milhão de pessoas e só perde para a agricultura no ranking de setores que mais empregam no país. Responsável por 5% do PIB do país, é o quarto setor econômico mais importante. Apesar de ostentar o título de maior indústria de cinema da África, a produção nigeriana ainda é pouco conhecida no Brasil. Contudo, ela chama atenção de quem trabalha com audiovisual e também de quem estuda o assunto.

Nollywood chama atenção não só pela quantidade de filmes – uma média de 1.500 filmes por ano, cerca de 15 vezes a mais que a indústria brasileira – mas também pelo conteúdo do que é produzido. Isso porque o cinema nigeriano procura dar conta das diversas tradições e estilos de vida existentes no país, que possui mais de 180 milhões de habitantes divididos em 389 grupos étnicos e que falam em torno de 250 idiomas. Os filmes retratam desde aspectos religiosos à questões sociais, como estupro, violência doméstica e câncer. De fato, Nollywood tem contado a história da Nigéria através dos filmes e o público tem gostado do que é feito.

A cientista social Maria Pereira é gestora de projetos culturais e sócia-fundadora da Praga Conexões, uma empresa brasileira que concebe e implementa projetos nas áreas de audiovisual e educação. Um desses projetos foi a Mostra Nollywood, realizada em 2012 com patrocínio da Caixa, um dos principais bancos públicos do Brasil, e que levou ao público local, pela primeira vez, filmes nigerianos de diferentes épocas, além de trazer alguns de seus principais cineastas e produtores.

“O público não foi tão grande”, revela. “Porém, aqueles que estiveram presentes foram bastante impactados. Em parte pelo desconhecimento em relação à Nigéria que é apresentada em algumas das obras. Em parte pela expressão do cinema nigeriano.L lembro, por exemplo, que um espectador depois de uma sessão veio comentar comigo que não imaginava que na África houvessem pessoas de classe-média”.

O cinema nigeriano é praticamente desconhecido pelo grande público do Brasil. No entanto, os métodos de produção e distribuiçao usados em Nollywood vêm chamando cada vez mais atençao dos pesquisadores e realizadores brasileiros. “Eles têm noção de coerência do orçamento da obra com seu potencial de comunicação e comercialização. No que diz respeito à distribuição, os nigerianos investem em meios alternativos, acessíveis à maior parte da sociedade, tanto em termos econômicos quanto geográfico propriamente”, exemplifica Maria Pereira.

Outro ponto interessante do cinema nigeriano, segundo ela, é a aproximação dos realizadores com o imaginário dos espectadores médios em termos de linguagem e temas de interesse. Para ela, existe uma aproximação cultural entre quem faz cinema e quem o consome no país. “A maioria dos cineastas de Nollywood são de classes populares. Eles abandonaram suas profissões de pedreiro ou mecânico, por exemplo, e no momento do boom da indústria entraram para o universo do audiovisual. Eles eram/são seu próprio publico-alvo. Portanto, compreendem melhor do que ninguém as questões que os interessa e o tipo de narrativa que os envolve”.

Maria Pereira fala de seus filmes nigerianos prediletos, ideais para quem pretende se inserir nesse universo. “Os filmes do Tunde Kelani e do Kunle Afoloyan são muito bons. O Tunde é um dos diretores mais respeitados da Nigéria, produz há muito tempo, e o Kunle é um jovem cineasta que vem produzindo muito e com qualidade”, revela. “Um clássico importante é o Ousofia in London, uma obra de comédia, rodada em Londres, que projetou o cinema de Nollywood para o mundo. Issakaba é outro, que faz parte de uma série de filmes – foi até o oitavo! – bom representante dos filmes de ação e violência”.

Fontes de inspiração

Cineasta e pesquisador audiovisual, Philipe Ribeiro conheceu o cinema nigeriano após longas pesquisas sobre meios alternativos de distribuição e exibição de filmes em países subdesenvolvidos. O interesse pelas produções da Nigéria fez com que Philipe dialogasse com outras pessoas que compartilhavam o mesmo interesse. Daí, ele decidiu criar o blog ‘Cinema Nigeriano’. “Eu precisava reunir e organizar o material da pesquisa para posteriormente conversar com outros estudiosos do tema e a maneira mais dinâmica e colaborativa foi por meio de um blog”, lembra.

Hoje, Philipe realiza filmes em comunidades de pescadores e trabalhadores rurais e procura dar ênfase à convivência do povo sertanejo com o clima seco do nordeste brasileira. Toda essa inspiração, segundo ele, veio da paixão pelo cinema feito na Nigéria.

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