O Brasil já foi o maior produtor de caju do mundo. Hoje, perde para Índia e Vietnã. Atual maior produtor e processador de caju do mundo, o Vietnã entrou no mercado da cajucultura há cerca de trinta anos. A Índia, país que hoje ocupa a segunda posição no ranking, exporta apenas cerca de 20% de sua produção. A grande maioria do que é cultivado lá não chega a sair do país. Os 31 países da África que investem na cajucultura, liderados pela Costa do Marfim, ocupam juntos a terceira posição dessa lista. O setor chega a responder por 15% do PIB de alguns desses países. Dados da Faostat, plataforma online de dados estatísticos da FAO – Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura, mostram que a produção de caju no continente africano atinge a marca de 1, 3 milhões de toneladas por ano, dos cerca de 3 milhões de toneladas da oferta mundial do caju.
Contudo, esse número pode crescer – e muito. E o Brasil tem um papel fundamental para esse crescimento. A África leva vantagem em relação aos asiáticos no mercado internacional da cajucultura não só por conta da maior aproximação geográfica com a América do Norte e com a Europa, mas também pelo fato dos produtores valorizarem a produção orgânica, que resulta em produtos com maior qualidade. O Brasil detém o que há de mais avançado em know how para produção e beneficiamento do caju: uma grande concentração de indústrias, quase todas automatizadas, uma boa reputação no mercado internacional e também um dos mais avançados centros de pesquisa científica e desenvolvimento da cajucultura do mundo, a Embrapa. Além disso, a indústria brasileira oferece um elevadíssimo índice de aproveitamento do pedúnculo, algo que praticamente não existe nos outros “O Brasil é talvez o único pais que tem tecnologia de processamento de pedúnculo em escala industrial, com altos resultados.
Nos outros países, apenas a castanha é aproveitada. Nos últimos anos, temos feito um trabalho muito grande de valorização do pedúnculo, tanto para produção de suco como para outros tipos de alimentos, como fibras alimentares, explica Flávio Paiva, pesquisador da Embrapa e há trinta anos envolvido em experimentos voltados para o melhoramento do caju.
O aproveitamento do pedúnculo – que pode incrementar a renda dos pequenos produtores e também reduzir o fome nos países mais pobres – é apenas um dos fatores que pode ajudar a impulsionar o setor na África e em outros países. Uma parceria entre a Agência de Cooperação Internacional do Japão (Jica) e a Agência Brasileira de Cooperação (ABC), resultou na criação do Curso Internacional em Produção, Pós-colheita e Processamento Industrial do Caju. Promovido pela Embrapa, o curso recebe técnicos indicados pelos governos de países da África, América Latina e Caribe, além do Timor-Leste, para serem capacitados a tocarem projetos inovadores de cajucultura. O programa de capacitação- que ocorre anualmente há cinco anos e que em 2015 chegou à última turma – totalizou 98 técnicos formados. “Alguns países têm conseguido avançar muito na melhoria da produção e já fizeram projetos de cooperação, como Moçambique, Guiné-Bissau, Colômbia e Honduras. Nesses países já temos projetos e já visamos fazer outro segmento de capacitação de outras pessoas para transferir tecnologia, comemora o pesquisador Flávio Paiva, que também coordena o curso. “A África, em geral, tem muitos problemas estruturais. Então trabalhamos com muita paciência para obter resultados. Existe pouca industrialização. Há muito desconhecimento para as oportunidades de processamento. Quase toda a produção de lá é exportada para as indústrias da India, do Vietnã e do Brasil. De cada 100 kg de caju, 10 é de castanha e 90 é de polpa. E tudo é perdido porque não sabem como trabalhar com isso. Estamos trabalhando e buscando melhorando e se aproximando do que é feito no Brasil”, afirma.
LÍDER MAIS UMA VEZ
Se por um lado o Brasil tem se esforçado para transferir tecnologia, por outro os produtores locais correm para recuperar o posto de liderança que já ocupou no mercado. Contudo, o empresário brasileiro enfrenta a alta no preço da castanha e também da mão-de-obra, além de outros fatores econômicos que encarecem o processo produtivo, como taxas de juros e impostos altos.
O Ceará, estado localizado no nordeste brasileiro, lidera a produção e a exportação de caju no Brasil, com mais de 50 % de toda a produção do país e mais de 90% do processamento de castanha e suco. A produção local, de 250 mil toneladas por ano e que utiliza 400 dos 700 mil hectares destinados a colheita do fruto no território brasileiro sofre não só com a baixa produtividade mas também com intempéries climáticas, como a estiagem, que castigou as fazendas de caju nos últimos cinco anos. Para tentar reverter esse quadro, governo, empresários e institutos de pesquisa se reúnem na Câmara Setoral do Caju. “Procuramos dar assento para todos esses atores que de alguma forma colaboram ou atuam na cadeira produtiva. É também uma integração entre o público e o privado porque participam entidades representativas desses dois setores”, explica Alderito Oliveira, presidente da Criada em 2009, a Câmara elaborou um documento, chamado Plano de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Caju do Ceará para os anos 2014 e 2025, que apresenta vários projetos visando a revitalização do setor. O estado vizinho, o Piauí, segundo na lista dos principais produtores, também possui uma câmara semelhante. E em Brasília, um representante do setor ocupa um assento na Câmara Nacional da Fruticultura.
Como a atual safra brasileira não consegue sozinha ocupar a capacidade de produção das grandes indúistrias, não restou outra alternativa para os empresários que seja a aquisição da castanha oriunda da África. “Tem o custo da mão-de-obra, que é menor, e também o volume, que é grande. Toda a safra do continente africano é em torno de quatro ou cinco vezes maior que o volume da safra brasileira”, explica Alderito Oliveira.
“A África tem um volume muito grande de produção e também bastante facilidade de compra. Aqui no Brasil, nós temos o volume muito grande de capacidade instalada de produção nas fábricas”. Atualmente, Benin, Guiné Bissau, Gana, Nigéria e Costa do Marfim estão autorizados a exportar castanha de caju ao Brasil.
DE OLHO NO FUTURO
Em setembro de 2015, a cidade de Maputo recebeu durante quatro dias a nona edição da Reunião Anual da Aliança Africana de Caju. Entre os principais desafios para os 200 membros da aliança – formada por países, empresas e companhia de Caju na Africa – está garantir que quase toda a produção seja processada no continente. “Apesar dos pequenos produtores rurais africanos garantirem a maior parte da produção, estes continuam pobres e as empresas ligadas ou interessadas em entrar no setor reclamam das dificuldades de acesso ao credito”, afirmou a presidente da Aliança Africana do Caju, Georgete Taraf. O setor de caju emprega 10 milhões de africanos sendo a principal fonte de renda de cerca de 1,4 milhões de famílias rurais no continente.
CAJUEIRO
O cajueiro é uma planta perene, nativa do Brasil, que oferece diversas possibilidades de uso. Da castanha-de-caju, extraise a amêndoa para alimento humano. O pedúnculo, também conhecido como pseudofruto, pode ser consumido in natura ou usado na fabricação de doces, polpas para suco e demais produtos da indústria alimentícia. Da casca da castanha, é obtido o líquido da casca da castanha (LCC), com aplicação pela indústria química na fabricação de tintas, vernizes, lubrificantes e cosméticos.
PRODUÇÃO BRASILEIRA
O Ceará é o maior produtor do Brasil, com oscilações entre 48 e 54% do total. O Piauí e o Rio Grande do Norte produzem cerca de 24% e 20%, respectivamente. O restante é produzido pelo Maranhão e Bahia (os demais estados produzem, mas não chegam, no total a 2%.
O PODER DA COSTA DO MARFIM
12% foi o crescimento da produção de castanha entre 2013 e 2014.
A produção de castanha de caju no pais atingiu o patamar de 625 mil toneladas na temporada 2014/2015, o segundo melhor resultado no período, perdendo apenas para a India.