Com projetos ambientais que apresentam inovações em seus respectivos países, a brasileira Anna Luísa Beserra (21) e a angolana Adjany Costa (29) receberam um prêmio da ONU para jovens cientistas. Com seus projetos, as duas contribuem para a preservação ambiental e acesso a água. E com o incentivo, elas pretendem expandir essas tecnologias para outras regiões.

A premiada da África é a angolana Adjany Costa, que se destacou por seus esforços para conservar água e a biodiversidade no país. E na categoria “América Latina e Caribe” a brasileira  Anna Luísa Beserra, primeira do país a ganhar o prêmio, possui o projeto “Aqualuz”, que purifica água por meio de radiação ultravioleta e teve inspiração no semiárido do país. Ela acredita que o prêmio é o pontapé inicial para expandir seu projeto para outras regiões do mundo.

Esse prêmio fornece uma grande oportunidade para a gente de fazer conexões com pessoas na África e até na Ásia para tentar expandir essa tecnologia. Já disse para a equipe que a gente vai levar uma unidade na mala para poder entregar a alguém que possa levar e implantar em algum país do continente Africano”, brinca a brasileira Anna Luísa.

“A importância de receber essa distinção vai além do meu trabalho. É uma forma de mostrar que existe um mundo de conservação em Angola para além daquilo que é falado, para além daquilo que é institucional. Existem pessoas motivadas para trabalhar nas diferentes áreas e componentes da conservação. Também é uma forma de mostrar que, mesmo nas áreas remotas, temos tido alguma atenção”, comemora Adjany Costa.. 

A jovem angolana também destaca a importância do prêmio como incentivo para continuar seu trabalho. “É sempre um apoio, porque este não é um trabalho fácil. É um trabalho que requer motivação, que requer uma certa visibilidade para podermos continuar.

Angola e a Preservação

Em Angola, Adjany Costa trabalha com a comunidade Luchaze, nas terras altas do leste angolano. Estas comunidades estão ameaçadas por práticas insustentáveis que ameaçam sua subsistência, depois de quase três décadas de guerra civil.

DescriçãoO Delta do Cubango, também chamado de Delta do Okavango, é compartilhado por Angola, Namíbia e Botsuana. Foto: Freek Van Ootegem/ ONU Meio Ambiente

Nosso projeto envolve uma série de atividades de empoderamento que lhes permite ter uma voz, uma voz que eles sentem que perderam durante 27 anos de guerra civil.” explica a cientista. “O projeto consiste em basicamente na introdução de workshops e de conversas para poder ativar a conservação como forma de melhorarem as suas próprias vidas e terem um incentivo econômico para eles próprios fazerem a conservação da sua própria terra”.

Adjany Costa Foto: ONU Meio Ambiente

A jovem conheceu os Luchaze pela primeira vez quando participou de uma expedição científica ao longo da bacia do rio Okavango. Durante quatro meses, Adjany percorreu cerca de 2,5 mil quilômetros, passando por Angola, Namíbia e Botsuana. Segundo a ONU Meio Ambiente, o delta do rio, em Botsuana, abriga uma vida selvagem abundante, incluindo uma das maiores populações de elefantes do mundo.

Brasil e a Água

De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente Pnuma (PNUMA), o Aqualuz é uma invenção de baixo custo, fácil manutenção e pode durar até 20 anos. A iniciativa já distribuiu água potável para 265 pessoas e alcançará mais 700 ainda este ano. Embora tenha sido testado apenas no Brasil, o dispositivo tem potencial para ser aplicado em outros países.

Anna Luísa Beserra Foto: ONU Meio Ambiente

“O Aqualuz surgiu quando eu ainda tinha 15 anos e estava no ensino médio. E como eu sempre quis ser cientista, surgiu uma grande oportunidade de participar, em 2013, do prêmio Jovem Cientista do CNPQ [uma agência brasileira de fomento à ciência]. Era o ano internacional pela cooperação da água e então o tema era água”, lembra. “Como eu sou de Salvador, sou baiana, apesar de nunca ter morado no interior e no semiárido de fato, eu sempre soube da necessidade de acesso à água nessa região. Então pensei em algo que fosse simples e viável para aplicar nessas regiões”, revelou.

Reconhecimento aos jovens cientistas

Jovens Campeões da Terra é um prêmio atribuído pelas Nações Unidas a ambientalistas entre os 18 e os 30 anos de idade. São contemplados sete jovens que representam cada uma das seguintes regiões: África, América do Norte, América Latina e Caribe, Ásia e Pacífico, Europa e Ásia Ocidental. Esses jovens recebem financiamento, mentoria e apoio de comunicação para ampliar seus esforços. 

Lançado em 2017, o prêmio é inspirado na distinção Campeões da Terra, que é aberta a pessoas de todas as idades e continua sendo a maior honra ambiental das Nações Unidas. Cada um dos sete vencedores receberá US$ 15 mil para desenvolver seus projetos e US$ 9 mil para investir em comunicação e comercialização, além de formação, orientação e convites para participar de reuniões de alto nível da ONU. 

Os vencedores receberão seu prêmio durante a Cerimônia dos Campeões da Terra em Nova York, no dia 26 de setembro, coincidindo com a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cúpula de Ação Climática.

Intercâmbio

A brasileira Anna Luísa Beserra não só tomou conhecimento do projeto da angolana Adjany Costa como prometeu procurá-la para discutir um possível intercâmbio. As duas deverão trocar experiências e elaborar as próximas etapas para o projeto.

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