Nascido em Benin, o estilista Abbé Tossa veio ao Brasil através de um intercâmbio para estudar Ciências Biológicas na Unifesp. Foi no País que seu talento para a moda ganhou força e em 2018 ele lançou a sua marca, a Kuavi. Seu trabalho tem grande influência da tradição africana, desde a escolha dos tecidos a confecção das peças, destacando sua motivação em divulgar a cultura do continente.
Promovendo a Kuavi através do instagram, ele diz que não investe em marketing e prefere a divulgação por seus próprios clientes. A estratégia tem dado resultado já que ele conquistou uma clientela variada, que inclui celebridades brasileiras como o ator Lázaro Ramos e o também ator e músico Seu Jorge. Essas figuras são representantes do movimento negro brasileiro, como ele destaca, o que reflete a crescente busca no país pela promoção e empoderamento de suas origens de matriz africana.
À ATLANTICO ele conta como é sua relação com o Brasil e com os brasileiros, de que forma a moda se conecta com o Benim e seus projetos para o futuro.
O que te dá prazer em seu trabalho com moda africana?
A moda africana não é tão simples assim. É algo muito complexo. Umas estampas são mensagens codificadas. Outras são pura arte africana. Certos tipos de roupas confeccionadas com determinados tecidos têm mensagens específicas. E eu quero que as pessoas saibam dessas coisas aqui no Brasil. Eu gosto de cultura, identidade. Então eu vejo o brilho nos olhos dos cliente que ele se conecta com o tecido, com roupa e com a identidade. Não é só beleza mas é história também. É uma conexão entre as pessoas e os ancestrais na África.
De onde vêm o tecido para a confecção das roupas?
Os tecidos vêm de vários países da África. Mas as estampas têm origem, têm etnia, tem um povo ou um velho ancestral que configurou! E depois é produzido em grande escala nas fábricas. É muito complexo falar disso. Dou palestra sobre como é produzido e falo das mensagens que essas estampas carregam. “Não é só beleza mas é história também . É uma conexão entre as pessoas e os ancestrais na África.”
Foto: Instagram Kuavi Africa
Quais suas inspirações e referências?
Eu me inspiro em mim mesmo (risos). Eu observo muito os looks que as pessoas usam aqui no Brasil. Daí tento adaptar os looks africanos aos looks brasileiros. Observo a estampa e começo a imaginar que modelo posso confeccionar com ela.
Que elementos do seu trabalho que se destacam entre seus clientes? Quem você gostaria que usasse suas peças?
O meu diferencial é a exclusividade, alta costura e a roupa sob medida. Dou garantia para todas as minhas peças. Mas não invisto em marketing convencional. A minha propaganda é boca a boca. Os próprios clientes recomendam a minha loja para amigos. Gosto quando o cliente coloca a roupa e diz “uau, é do jeito que eu queria”. Tenho clientes dos Estados Unidos, de Portugal, da Itália e da Argentina. Tenho bastantes clientes famosos. Eles são figuras públicas que representam os negros. Mas eu tenho clientes brancos também. É moda! Todo mundo pode usar. O meu objetivo é ter uma loja na vitrine no shopping onde qualquer pessoa pode ir e comprar roupas afro.
Foto: Instagram Kuavi Africa
Qual sua ligação hoje com a África, mais especificamente com o Benin?
Benim é minha terra! E a sua terra natal sempre é a melhor de uma maneira ou de outra. Tenho um projeto de levar as pessoas para visitar o Benin. Iremos em janeiro de 2020. Está tudo pronto. As pessoa vão amar. A África não é só guerra e miséria, temos muitas coisas lindas! O Benim é um dos países que têm uma ligação cultural muito forte com o Brasil. É um país tranquilo em questão de conflitos ou guerra e é um país democrático. Por isso, prefiro começar por lá.
Você tem atualmente outros projetos além da marca ou se dedica apenas à ela?
Além das roupas , tenho uma escola de idiomas : inglês, francês e, principalmente idioma yorùbá, que é uma língua que os ancestrais trouxeram aqui e ainda está presente no brasil .
+ No Brasil, o iorubá é usado em ritos religiosos afro-brasileiros (onde é chamado de nagô). Em 2018 o iorubá foi oficializado como patrimônio imaterial do estado do Rio de Janeiro.
Quais seus planos para o futuro? Você prentende continuar morando no Brasil?
Sobre continuar no Brasil, não sei. Gosto de deixar as coisas acontecerem.