O ano de 2011 foi especial para o grafiteiro paulista Alexandre Keto, hoje com 27 anos. Convidado para participar do Fórum Social Mundial em Dakar, capital do Senegal, foi a primeira vez que ele pisou em solo africano. Estudioso da cultura africana, sobretudo a dos povos Banto e Iorubá, a viagem de 11 dias serviu para que ele ampliasse seus horizontes. “Realizei um grande sonho: conheci a Ilha de Gorée. A primeira vez foi muito impactante”, lembra.

Alexandre, que trabalhava com projetos sociais para crianças e jovens da periferia de São Paulo, acredita que a arte dele ganhou um novo significado após essa viagem. “Meu trabalho ganhou muito mais cor. Os tecidos que vi lá me chamaram muita atenção. Antes eu me inspirava nas estátuas de Mali e Senegal. Eram seres nús. Depois, as minhas personagens ganharam roupas”, conta. O artista saiu da ONG onde trabalhava e passou a fazer viagens frequentes para os países africanos.  Voltou três meses depois da primeira experiência no Senegal e chegou a lecionar seis meses em escolas públicas de Dakar. Fez trabalhos semelhante na Mauritânia, Benin, Gana e África do Sul, sempre a convites de embaixadores brasileiros. No ano seguinte, teve a oportunidade de levar artistas brasileiros para ministrar workshops nos países africanos.

A figura feminina é uma das marcas registradas do trabalho de Keto. “Fui criado pela minha mãe, ao lado de outros dois irmãos. Por isso, esse respeito à figura feminina. Também faço alusão à África-mãe, como o continente que deu origem à tudo. Por isso utilizo bastante em meu trabalho a imagem da mulher gestante. Tem uma vida ali, que vem dar continuidade ao que já existe”, explica. Para conseguir chegar à diversidade de cores e texturas que o trabalho exige, o artista procura misturar várias tintas diferentes e usar outros materiais, como látex.

Retratar a África através do grafite tem um significado especial para Alexandre Keto. “Eu não aprendi quase nada sobre África na infância. Estudei numa escola pública de São Paulo. Lá, falaram sobre escravidão e sobre a história do Egito, embora o país fosse mostrado como um ‘quintal’ da Europa. Ainda é preciso desmistificar muita coisa sobre a África. Toda vez que volto de lá, me perguntam sobre crianças famintas, por exemplo. As pessoas têm aquela imagem antiga do continente, dos anos 90. O que vejo hoje quando viajo para lá é um continente com pessoas que falam vários idiomas e que fazem arte”, revela. “Precisamos valorizar a matriz africana que temos no Brasil. Temos mais negros no Brasil que no Senegal, por exemplo.

Os grafites de Alexandre Keto inspirados na África ornamentam os muros de cidades da França, Inglaterra e Portugal, além do Brasil. “Eu uso os mesmos personagens porque eu procuro reproduzir a trajetória dos africanos que vieram para o Brasil. Eles saem de Gana ou do Senegal, vão para a Europa e depois chegam na Amé- rica”, revela.

O trabalho de Keto será registrado também em uma exposição fotográfica que está sendo preparada pelo artista e por sua equipe e que deve começar por Salvador no segundo semestre de 2015. “Escolhi Salvador de propósito, por conta de sua importância histórica para a cultura afro-brasileira”, diz. Em 2016, a exposição deve percorrer outras capitais brasileiras em 2016.

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