O mundo tem hoje cerca de 1,9 bilhões de muçulmanos. Dados do Centro de Pesquisa Pew revelam que, globalmente a população muçulmana deve crescer 35% nos próximos 20 anos. Contudo, para conquistar esse mercado em ascensão, os investidores precisam se atentar para as especificidades do Islamismo. Comportamentos, formas de vestir e de falar e alimentos que são permitidos são chamados de halal. O termo é habitualmente usado para se referir aos alimentos autorizados de acordo com a lei islâmica. Segundo a empresa Datamonitor, o mercado de alimentos halal é responsável atualmente por um quinto do comércio mundial do setor, que inclui bebidas energéticas, vegetais, carne e aves, produtos enlatados, gourmet e alimentos finos.

O Brasil ocupa uma posição de destaque nesse mercado. O país hoje o terceiro maior exportador de produtos halal do mundo, perdendo apenas para a China e os Estados Unidos. Dados da Federação das Associações Muçulmanas do Brasil (Fambras) apontam que 33% da produção de frango do Brasil são destinadas ao mercado halal, tendo a Arábia Saudita como o principal comprador. Na carne bovina, o percentual chega a 40%, com destaque para o Egito. A participação brasileira é estratégica para a balança comercial. O mercado halal em todo o mundo é estimado em mais de US$ 400 bilhões, com crescimento médio de 15% ao ano.

Apesar de estar em uma posição consolidada no mercado internacional, o Brasil ainda pode aumentar– e muito – sua participação. “O Brasil não utiliza nem 20% do seu potencial”, aponta o gerente de relações governamentais da Câmara de Comércio Árabe Brasileira, Tamer Mansour. Para ele, o Brasil ainda precisa de investimentos diretos no que diz respeito aos produtos halal. “É preciso incentivar o produtor nacional. Necessitamos quebrar algumas barreiras sobre o produto halal dentro do contexto empresarial brasileiro e, principalmente, agregar valor ao produto”. Mansour também acredita que o Brasil, mesmo sendo um possuidor de uma excelente matéria-prima, precisa de mais infraestrutura, como áreas portuárias específicas para esse tipo de produto, a exemplo de Rotterdam, na Holanda, que possui um terminal exclusivo para abrigar cargas com certificado halal.

Entre os mercados mais promissores estão a Indonésia e a Malásia. “O primeiro ainda não consome o frango halal que vem do Brasil. Já o segundo tem um órgão governamental voltado exclusivamente para incentivar o segmento”, explica Adriano Zerbini, gerente-executivo de relações corporativas internacionais da BRF, empresa brasileira presente em 110 países e que ocupa o sétimo lugar no ranking das maiores companhias de alimentos do mundo. Em termos de volume, os produtos halal representam cerca de 40% do total exportado pela BRF. Com expertise no segmento desde a década de 70, a empresa deu um passo importante para conquistar novos mercados. “Inauguramos em 2014 uma planta para a produção de alimentos halal processados. Essa planta vai atender não só os Emirados Árabes, mas também toda a região do Oriente Médio, alguns países da África e também de outras regiões do mundo”, revela. Ainda de acordo com o executivo, a companhia tem pela frente o desafio de ampliar suas marcas halal nessas regiões. “Temos marcas muito fortes como a Sadia, que é líder no Oriente Médio, mas queremos continuar atendendo às demandas desses mercados”.

A produção de alimentos halal obedece a regras bem rígidas e específicas. Todo o processo, do abate até a venda para o consumidor final, deve ser supervisionado por uma entidade muçulmana. No Brasil, a Central Islâmica Brasileira de Alimentos Halal – Cibal Halal – braço operacional da Fambras, realiza o processo desde 1979 e é hoje a maior certificadora halal brasileira e atende os principais exportadores. “Nossa equipe audita os processos para verificar se as regras estão sendo cumpridas e se não há contaminação com produtos considerados ilícitos”, conta Mohamed Hussein El Zoghbi, presidente da Cibal. A empresa fornece serviços como mão de obra especializada em abate, inspeção e supervisão de produtos além de auditorias e implantação do sistema Halal junto às indústrias. Segundo Zoghbi, a emissão dos selos para produtos in natura leva em média 15 dias. “Já para o setor industrial, a liberação pode demorar até três meses, dependendo do tipo de produto”.

Criada em 2000, a empresa Prolab Cosmetics sediada em Diadema, na área metropolitana de São Paulo,tornou-se em maio de 2015 a primeira empresa brasileira de cosméticos a receber o certificado Halal. “O selo de garantia Halal é uma grande vantagem competitiva neste mercado”, garante o consultor de exportações Jorge Zakhem, se referindo aos planos da empresa para aumentar a participação no Oriente Médio.

Com um valor global estimado em US$ 2,1 trilhões, espera-se que consumo de produtos halal cresça consideravelmente com o crescimento da população islâmica no mundo. Atualmente, o maior consumidor de produtos Halal é o sudeste e oeste da Ásia. A população muçulmana na África subsaariana está projetada para crescer em quase 60% nos próximos 20 anos, passando de 242,5 milhões em 2010 para cerca de 386 milhões em 2030. Atualmente, Egito, Argélia e Marrocos têm as maiores populações muçulmanas no Norte da África. Contudo, nos próximos 20 anos, a população muçulmana da Nigéria será maior que a do Egito. Com uma taxa de crescimento média anual de 1,5 por cento, os muçulmanos serão 26,4% das 8,3 bilhões de pessoas que viverão em 2030, com uma idade média de 24 anos.

REGRAS DA PRODUÇÃO HALAL ABATE

A área de abate de uma planta que produz frango ou bovinos halal deve estar voltada para a cidade de Meca, na Arábia Saudita, considerada sagrada para os muçulmanos. O responsável pelo abate, chamado de degolador ou sangrador, deve ser muçulmano. E antes de cada operação, tem que dizer a frase “Bismillah Allahu Akbar”, que significa ” Em nome de Deus, o mais bondoso, o mais misericordioso” ou “Em nome de Deus, Deus é maior”. Para executar o trabalho, ele deve utilizar uma lâmina higienizada, bem afiada e sem serra. O corte deve ser feito no formato de meia-lua, atingindo traqueias e jugulares para garantir que a morte do animal seja rápida e que este não sofra. Após o abate, o esgotamento do sangue do animal deve ser completo.

TRANSPORTE

O transporte do produto também deve ser feito em contêineres separados. Isso é necessário para que não haja contaminação com outros produtos que não sejam halal, isto é, que não sejam permitidos pelas regras islâmicas. Os mais importantes entre os produtos considerados impuros (ou haram) são suíno e derivados e álcool.

OUTRAS ATIVIDADES HALAL

Cosméticos e Cuidados Pessoais A indústria de cosméticos halal tem se beneficiado da noção de consciência ecológica dos consumidores, sobretudo de consumidores não-muçulmanos. Isso porque os cosméticos halal estão livres de crueldade animal, não existem substâncias químicas nocivas que irritam a pele, como o álcool.

FARMACÊUTICOS

Em 2011, a Malásia lançou o primeiro padrão mundial de produtos farmacêuticos halal. A norma foi criada para atender a cadeia de suprimentos da indústria farmacêutica a partir do processamento de manuseio, embalagem, rotulagem, distribuição, armazenamento e exibição de medicamentos e suplementos de saúde.

VESTUÁRIO

Se metade dos consumidores muçulmanos gastassem apenas US$ 120 anuais com roupa a indústria da moda muçulmana teria um faturamento de pelo menos $ 96 bilhões por ano. Algumas empresas estão investindo em diferenciais como tecidos sustentáveis e cortes de qualidade para se destacar no setor.

TURISMO E HOTELARIA

sector da indústria do turismo e hospitalidade halal oferece uma experiência completa aos seus consumidores muçulmanos e abrange desde uma viagem de avião que oferece comida halal a onde não servem álcool e homens e mulheres circulam em áreas separadas.

LOGÍSTICA

Logística Halal refere-se à atenção a todos os detalhes envolvidos na cadeia de abastecimento halal, da exploração agrícola até à mesa.

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