O governo da África do Sul iniciou no dia 27 de março o lockdown como medida de combate à pandemia de COVID-19. Naquele momento, cerca de 500 brasileiros que estavam no país não sabia ao certo como voltar pra casa. A jornalista brasileira Larissa Carvalho (24), que trabalhava em Joanesburgo no início da pandemia era uma dessas pessoas.

Em conversa com nossa equipe, ela lembra como foi sua jornada de volta para casa, que contou com o apoio da embaixada brasileira. “Foi muito tempo de espera e todo mundo estava ansioso para voltar para casa“, revela. Ela também compara as medidas adotadas pelo governo da África do Sul com as estratégias do governo brasileiro para conter o contágio pelo novo coronavírus.

ATLANTICO – Em que momento você planejou sua volta?

Larissa Carvalho – Eu não fui planejando minha volta desesperadamente. A minha escolha, naquele momento em que soube que a crise da pandemia havia aumentado, foi procurar me manter calma e esperar o que viria a seguir no que diz respeito ao posicionamento das companhias aéreas e do governo sul-africano.  Quando eu soube do primeiro caso de coronavírus na África do Sul – no dia 06 de março – , a vida continuou como era.  Eu continuei indo para o jornal onde eu estava trabalhando como repórter freelancer. Dias depois – 13 de março – eu fui pra estreia da temporada de um espetáculo de ballet. Na semana seguinte, a temporada de ballet foi cancelada devido à crise que estava começando a se estender pelo país. Então, eu fui presenciando o cancelamento de várias atividades culturais em Joanesburgo até o presidente declarar o lockdown. Minha volta estava prevista para o dia 7 de abril mas todos os vôos estavam sendo cancelados. Então, o que eu fiz foi me preparar pra ficar de quarentena no lugar onde eu estava, me manter calma, conversar com minha família, buscar apoios dos meus amigos mais próximos e esperar o que a companhia aérea e o governo iriam dizer nos próximos dias.

ATLANTICO – Que orientações você recebeu?

Larissa Carvalho – Meu editor pediu que eu trabalhasse de casa, assim como os outros repórteres e demais funcionários do jornal. Mas isso foi uma semana antes do lockdown. O que eu percebi com a minha experiência na África do Sul é que muitas pessoas priorizaram a saúde e obedeciam as medida do isolamento social para evitar que a contaminação fosse maior.

ATLANTICO – O governo brasileiro contactou você?

Larissa Carvalho – A Embaixada do Brasil na África do Sul, localizada na cidade de Pretória, foi quem contactou a mim e outros brasileiros. Eles começaram a divulgar informações pelas redes sociais. Com o lockdown, mais de 500 brasileiros ficaram retidos, na situação de repatriamento, já que todos os vôos estavam cancelados.

ATLANTICO – Como foi o contato com os outros brasileiros que estavam lá?

Larissa Carvalho – Eu havia conhecido brasileiros quando fui estudar inglês na Cidade do Cabo. Eles estavam retidos lá e eu em Joanesburgo. Fomos nos articulando e criamos grupos no Whatsapp para poder ficar em contato e se comunicar com a Embaixada, que também criou um grupo.

ATLANTICO – Como estava a situação lá quando você saiu? Como era o clima geral?

Larissa Carvalho – Ruas desertas, todo mundo dentro de casa. Não podia realmente sair nem ficar na calçada porque a polícia prendia. As pessoas obedeciam muito mais do que aqui. Foi um outro aspecto que observei se for fazer uma comparação em geral com o Brasil. As pessoas estão respeitando mais.

ATLANTICO – Como foi sua volta?

Larissa Carvalho – Minha volta foi bem difícil e cansativa. Eu não queria voltar porque eu amei aquele lugar e me sentia muito bem lá. Até nessa questão da pandemia, eu me sentia mais segura lá do que aqui, uma vez que lá as pessoas  obedecem o isolamento social de fato, apesar dos casos terem aumentado. O ônibus da Embaixada veio me buscar bem cedo para levar até o aeroporto todos os brasileiros que estavam em Joanesburgo. Não era possível ir até o aeroporto por conta própria. O vôo seria somente às 15h, com escala às 18h10 na Cidade do Cabo. Decolamos depois das 16h. Todo mundo estava ansioso para voltar para casa. Depois de um pouco mais de 8h de vôo, chegamos em São Paulo. Em resumo, eu consegui voltar pra casa porque o governo brasileiro custeou esse voo especial de repatriação. Se não fosse isso, eu ainda estava retida na África do Sul. 

ATLANTICO – Você pretende voltar? 

Larissa Carvalho – Pretendo voltar! Aquele país é realmente incrível e balançou demais meu espírito e coração. Eu sinto que tenho que voltar e voltarei sim! 

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