Em março de 2014, países da África Ocidental ganharam a atenção do noticiário internacional. O motivo: a Organização Mundial de Saúde (OMS) notificou um surto de Ebola que começou em dezembro de 2013 no Sul da Guiné-Conacri. O maior e mais complexo surto de Ebola desde que o vírus causador da doença foi descoberto. Houve mais casos e mortes neste surto do que todos os outros combinados: 28.424 pessoas foram infectadas e mais de 11 vidas foram perdidas.

Os países mais severamente afetados – além de Guiné, Libéria e Serra Leoa – têm sistemas de saúde muito fracos, não dispõem de recursos humanos e de infraestrutura. Por outro lado, vários governos, empresas e organizações internacionais se mobilizaram para ajudar os países atingidos a se articularam para evitar uma epidemia mundial. A ajuda mais significativa começou em setembro de 2014, com material, dinheiro e pessoal médico, depois da OMS ter alertado que os países não tinham capacidade de lidar sozinhos com um surto deste tamanho e de tal complexidade.

Os resultados da ajuda começaram a surgir em janeiro de 2015, com uma redução no número de mortes e também de novas notificações da doença. Hoje, o Comitê de Emergência da OMS mantém a epidemia com o status de emergência sanitária de preocupação internacional. Apesar da redução de novos casos, Guiné, Libéria e Serra Leoa continuam a aplicar rígidos controles de saída, porque o risco de contágio ainda persiste.

“Ninguém lembra que há Ebola. A vida é absolutamente normal, as pessoas trabalham,fazem compras, as escolas estão abertas. Não há nenhuma consequência, não há nenhuma memória, acabou. Em alguns locais as pessoas medem a temperatura corporal à distância e, em casos suspeitos, o indivíduo é levado a um centro de tratamento. Mas não há qualquer mudança de comportamento das pessoas”. A declaração é do diplomata Alírio Ramos, chefe da missão brasileira em Conacri, capital da Guiné. “Mesmo no auge da epidemia, em agosto ou setembro de ano passado, a vida continuava normalmente. Houve mudanças de hábitos nos hospitais, no aeroporto”, recorda. A comunidade brasileira na Guiné está restrita a, no máximo, vinte pessoas. Há três anos, a comunidade brasileira contava mais de 300 residentes. Essa diminuição, segundo o diplomata, não estaria relacionada com a epidemia de Ebola e sim com o fim dos contratos das empresas de construção civil que realizavam obras no País.

A PARTICIPAÇÃO BRASILEIRA NO COMBATE AO EBOLA

Segundo especialistas em saúde pública, a disseminação do Ebola para outros continentes é considerada improvável, por conta de características da transmissão do vírus. Mesmo assim, vários países criaram barreiras sanitárias e colaboraram de uma forma ou de outra no combate à epidemia. O Governo brasileiro doou R$ 25 milhões a agências das Nações Unidas para o combate ao vírus da doença e o apoio à população dos países afetados. Além destes recursos, em novembro de 2014, foram repassados à Organização Mundial da Saúde e à Organização Pan-americana da Saúde mais R$ 3 milhões para o combate ao vírus.

O Brasil enviou, em junho do ano passado, 24 kits, equivalentes a seis toneladas, com medicamentos e insumos aos três países afetados pela epidemia. Cada um dos kits é suficiente para atender cerca de 500 pessoas durante três meses e contém 30 tipos de medicamentos, incluindo antibióticos e anti-inflamatórios, além de 18 insumos para primeiros-socorros, como luvas e máscaras. Quatro kits foram destinados para a Guiné, cinco para Serra Leoa e cinco para a Libéria, além de outros dez enviados à OMS para distribuição.

Procurado pela ATLANTICO, o Ministério da Saúde do Brasil esclareceu que, atualmente, é muito baixa a possibilidade de transmissão do vírus do Ebola no país, tanto por entrada em aeroportos e portos como pelas fronteiras terrestres. O fluxo de passageiros provenientes dos países com transmissão da doença (Guiné e Serra Leoa) é muito pequeno. Além disso, esses países realizam triagem nos aeroportos de saída, medida considerada pelo Ministério como a mais eficaz para evitar a disseminação internacional da Doença do Vírus Ebola (DVE).

O Brasil adotou ainda todos os procedimentos previstos no Regulamento Sanitário Internacional e reforçou as ações de vigilância e monitoramento da doença. Nos aeroportos, foi veiculada mensagem sonora com recomendações a passageiros de voos internacionais. No comunicado, pessoas que regressarem de viagens internacionais com sintomas – como febre, vômito, diarreia, sangramento, manchas no corpo ou tosse – eram aconselhadas a procurar atendimento médico, além de informar ao profissional de saúde os países em que passaram. Também foram realizadas videoconferências com todas as secretarias estaduais de saúde, além de enviadas normas técnicas para preparação da rede de saúde.

Também é importante mencionar o envolvimento dos estados e municípios na preparação, que envolveu atividades de serviços assistenciais, laboratórios, atendimento pré-hospitalar, comunicação, meios de transporte para casos suspeitos, profissionais e amostras de material biológico. Mesmo com o baixo risco de transmissão da doença, o Ministério da Saúde permanece em alerta e mantém as ações de monitoramento e vigilância para identificação de um possível caso suspeito de ebola no país.

E A VIDA CONTINUA…

“Estamos falando de um dos países mais pobres e, ao mesmo tempo, de um dos países de maior riqueza mineral do mundo. A Guiné tem um subsolo riquíssimo, com 2/3 de toda a reserva de bauxita do mundo, que é a matéria-prima para fabricação do alumínio”, explica o diplomata Alírio Ramos. “Eles têm a maior reserva de ferro inexplorada do mundo. Ou seja, esse país tem muita bauxita, muito ferro, muito ouro. É extremamente rico, com uma população de apenas doze milhões de habitantes”, conta. De acordo com o diplomata, o país oferece bastante oportunidade para investidores brasileiros. “Eles precisam de tudo, não tem nada aqui. Tem uma indústria de cimento, uma de tinta, umas duas de cerveja, mas é pouco. Então qualquer investimento é bem vindo, sobretudo no setor agrícola, no setor farmacêutico e no de serviços”, aponta.

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