“Foi o Amor que me fez vir ao Brasil”. A frase define a transição ocorrida em dezembro de 2002 com a cantora, compositora e bailarina Fanta Konaté, que deixou sua terra natal, a República da Guiné, para viver em São Paulo. A ideia de cruzar o oceano surgiu da união entre a cantora e o musicoterapeuta brasileiro Luis Kinugawa. Oriunda de uma família de artistas, Fanta estava disposta a estabelecer o que ela chama de “ponte sócio-cultural” entre o Brasil e a Guiné. “Viajei por alguns países e vi realmente que o Brasil, que tem maioria negra, conhece muito pouco em relação aos países, etnias, culturas e regiões da África. E o Brasil deve valorizar sua herança africana”, revela. 

A partir de então, Fanta se destaca por soltar a voz e o corpo em espetáculos como Hamaná Foli e Juramandén que combinam diversos tipos de instrumentos musicais e danças típicas da Guiné com projeções multimídia e muitos efeitos de luz. O trabalho, apresentado em turnês pelo Brasil e pelo exterior, é alegre e original. “Nosso trabalho traz muitas informações sobre o este africano e percebo que os brasileiros se interessam cada vez mais. Muitos gostam da dança, mas não tem muitos locais pra dançar e se divertirem como acontece na África, onde muitas festas acontecem na rua, para todos participarem”, conta. Quando tocamos em teatros, as pessoas vão tomando coragem e começam a dançar”.

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Aos poucos, Fanta Konaté foi tomando consciência da importância de seu trabalho. “Quando eu cheguei, não entendia, mas agora eu começo a entender que o Brasil precisa conhecer mais da África real, seus países, eliminar preconceitos, acabar com o racismo e parar de ficar remoendo o passado”, conta. Fanta reconhece que as ações culturais e sociais têm grande poder para essa transformação e defende que o governo brasileiro, apesar de reconhecer os esforços recentes, precisa investir mais em políticas culturais. “Elas ainda não estão agindo da melhor forma para fortalecer os Mestres, as manifestações populares, a preservação da identidade do povo. A cultura tradicional não é uma peça de museu, ela está sempre em movimento , é uma cultura viva, mas que sofre com a má distribuição dos recursos”, crítica. “Vejo grandiosos eventos que só beneficiam os que não precisam desta incentivo e quem realmente precisa, muitas vezes não é contemplado. A prioridade deveria ser dos Mestres da Tradição popular e não de artistas que tocam no rádio e na televisão, que não precisam e, muitas vezes, não contribuem em nada na cultura verdadeira do país. 

A artista, que conhecia muito pouco sobre a música brasileira antes de chegar ao país, virou uma profunda admiradora da cultura local. “Gosto muito da música tradicional do Brasil como tambor de crioula, maracatu, samba de roda. Também fui conhecendo grandes artistas como o Tião Carvalho, a Fabiana Cozza, Simone Sou, Naná Vasconcelos e muitos outros”. Apesar dessa aproximação com artistas brasileiros, Fanta Konaté não tem planos para parcerias musicais. Pelo menos por enquanto. Ela, que já gravou um CD, agora pretende gravar um segundo álbum, com repertório inédito. Para isso, espera contar com o apoio dos fãs em sites de financiamento coletivo. 

OLHAR PRA FRENTE

Ainda sobre o futuro, a artista pretende também viabilizar um projeto iniciado em 2008 com o marido. “Nós criamos o Instituto África Viva para viabilizar as nossas ações socioculturais, promovendo, preservando e multiplicando a cultura africana e as diásporas para o desenvolvimento humano. Esse é o fundamento dessa instituição”, explica Luís. “Atualmente não dispomos de uma sede, um local fixo onde as atividades aconteçam. Temos realizado oficinas itinerantes, cursos, palestras, oficinas culinárias, jantares africanos, campanhas para ajudar a África, e muitos shows também”. O casal também começou a construir um espaço do Instituto na Guiné. “As paredes já subiram, mas ainda não colocamos o telhado. Precisamos de apoio para concluir as obras e iniciar as atividades, que devem atender 500 jovens”, explica Fanta Konaté. 

A união de Fanta Konaté e Luis Kinugawa começou ainda em solo africano. “Foi uma experiência incrível, pois muitas pessoas sofreram na guerra da Serra Leoa”, relata Fanta, que trabalhou com Luís em campos de refugiados na região das florestas da Guiné. “Vi que a biomúsica que o Luís criou ajudava muito as pessoas a esquecerem os traumas e tomarem coragem para seguir a vida adiante, mais felizes e confiantes”. O amor dos dois resultou em um filho, Rodrigo, e no trabalho que eles fazem no Brasil. 

A família de Fanta Konaté é uma das mais representativas da arte tradicional Malinkê, da Região do Hamaná, nas savanas da Guiné, onde surgiram o tambor Djembê e a música dos Griots. 

Fanta teve sua formação com dan- çarina nos Balés “Hamaná”, “Faretá”, “Bolontá” e “Soleil d´Afrique”” na Guiné. Ela também trabalhou como coreógrafa e bailarina do Grupo Baratzil, foi professora do Teatro Escola Brincante de Antônio Nóbrega e arte-educadora das ONGs Médicos Sem Fronteiras e Enfants Refugiees du Monde.

“Foi o Amor que me fez vir ao Brasil”

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