UNINPORT 3030 (Divulgação Jacto)

O Programa Mais Alimentos Internacional (PMAI) está sendo reestruturado na expectativa de que, ao lado de outras iniciativas privadas que devem ser adotadas, oferecer um novo fôlego ao setor de máquinas e equipamentos. “O ano de 2016 não foi um ano muito bom. O mercado ficou bem retraído, o câmbio não ajudou e o preço das commodities também não colaborou muito”, lamenta Pedro Estevão Bastos, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

Pedro Estevão estima que o continente africano seja responsável por 15% das exportações de máquinas e equipamentos agrícolas fabricados no Brasil. Ele lamenta o recuo do PMAI”. “O programa é muito importante para o setor, mas o governo reduziu os recursos devido aos cortes de gastos. Então, nós tivemos que baixar os investimentos também”, conta. “Temos trabalhado em Moçambique, Zimbábue, Gana, Senegal. E estamos tentando, agora, com Nigéria e Angola”. Criado pelo governo brasileiro, o PMAI fornece apoio a projetos de desenvolvimento agrário e incremento da produção da agricultura familiar para os países participantes. No continente africano, participam Moçambique, Gana, Zimbábue, Senegal e Quênia. Como uma ação de apoio complementar à cooperação técnica, foi criada uma linha de crédito concessional para o financiamento de exportações brasileiras de maquinário e equipamento agrícola para pequenos produtores nos países participantes do programa.

Com a recente mudança de governo no Brasil, o programa passa por um novo momento. “No final de 2016, uma missão técnica visitou todos os países parceiros na África e também a Nigéria, que já pediu ingresso no programa. Além disso, diversos outros países já solicitaram sua participação no programa e estão tendo seus pedidos avaliados”, garante Guilherme Martinelli, assessor especial da Secretaria Especial da Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário (Sead). “Nesse momento, o grupo técnico responsável pela gestão do programa está discutindo que trabalhos serão desenvolvidos neste ano. A expectativa é que nos próximos meses as exportações sejam retomadas”.

O anúncio pode dar um gás para a indústria brasileira de máquinas e equipamentos com um todo, que faturou R$ 66,2 bilhões em 2016, recuo de 24,3% em comparação com 2015, a quarta queda anual seguida do setor, segundo dados da Abimaq. O PMAI é um dos principais motores para exportação de máquinas e equipamentos para a África. “É um programa sério, que tem todo o acompanhamento do governo brasileiro. Existe a checagem se esses tratores estão sendo bem utilizados, se as licitações estão sendo cumpridas. É um programa que ajudou bastante a agricultura”, explica Edson Aires, diretor comercial da empresa brasileira Agrale. “Nos últimos três anos, mandamos quase 500 tratores para o Zimbábue. Mandamos também algumas pessoas para ensinar como operar as máquinas e tratores e, em contrapartida, trouxemos técnicos do governo do Zimbábue para o Brasil para que pudessem ser treinados. O país foi um modelo no programa. Esse mesmo tipo de trabalho queremos fazer nos outros países da África”.

ADVANCE 3000 (Divulgação Jacto)

CONTINENTE ESTRATÉGICO

Programas como PMAI e o PROEX são essenciais para empresas como a brasileira Jacto. Com sede em São Paulo, a empresa atua na África desde a década de 1970, através de parcerias com companhias locais. Entre seus principais mercados estão a África do Sul, Quênia, Zâmbia e Etiópia. As máquinas da empresa mais procuradas pelos produtores africanos são as tratorizadas, especialmente os modelos que atendem pequenas e médias propriedades rurais. Em alguns mercados, sua participação neste tipo de equipamento chega a 42%.

Porém, o setor também viu nascer outros movimentos, como o programa Food For All, desenvolvido pelo Sindicato das Indústrias de Máquinas e Implementos Agrícolas do Rio Grandes do Sul (SIMERS), que pretende aumentar o volume de exportações tentando inserir pequenas e médias indústrias. “No ano de 2016, mapeamos 23 mercados para serem trabalhados pelo projeto nos próximos 36 meses. Esses mercados estão localizados na América do Sul, Central, Caribe e África. Alguns desses mercados são extensivos, outros intensivos, outros de base pecuária, outros com foco no plantio, mas, praticamente todos deficientes em mecanização”, observa Eduardo Teixeira, gestor do programa e consultor internacional do SIMERS. “São mercados distintos entre si e que necessitam ser entendidos de forma individual, sob pena de perda de tempo e dinheiro. Mesmo que não seja possível vender toda a linha de produtos para esses mercados, pode-se agregar alguns produtos em nichos de mercados específicos”.

UMA PARCERIA DE FUTURO

O fato é que ninguém pretende tirar a África do radar. Pelo menos a médio prazo. Essa é a compreensão tanto do setor privado quanto do governo. “É preciso ter em mente que essa é a primeira fase do PMAI, o primeiro dessa magnitude realizado pelo Brasil. Mais de 60 mil máquinas e equipamentos já foram exportados e a expectativa é que esse número aumente ainda mais nos próximos anos”, prevê Guilherme Martinelli, da Sead. “Estamos na Namíbia, Angola, Zimbábue, Etiópia, Gana, Uganda, Ruanda e Nigéria. Além disso, temos uma série de países que estão no nosso radar”, adianta Edson Aires, da Agrale. “Também queremos crescer cada vez mais nos países onde já estamos presentes”.

UNIPORT 3030 (Divulgação Jacto)

FALTA DE CRÉDITO, O GARGALO

Apesar do interesse dos empresários brasileiros em investir na África, o setor de máquinas e implementos agrícolas aponta alguns gargalos. Um deles é a falta de crédito. “O continente africano é um mercado em potencial, a gente tem exportado para vários países. Mas o continente tem muito problema de crédito. Nem todos os países têm dinheiro pra pagar o crédito. Outros países tem crédito bloqueado. Mas é um continente em potencial devido ao clima, às nossas variedades de plantio e às nossas máquinas adaptáveis”, conta Pedro Estevão Bastos, da Abimaq.

CONDOR 800 (Divulgação Jacto)

INCENTIVO PARA EXPORTAÇÃO

Além do Programa Mais Alimentos Internacional (PMAI), as empresas brasileiras podem utilizar as linhas de crédito para exportação, como o Programa de Financiamento às Exportações (PROEX), criado em 1991 para garantir a competitividade das exportações brasileiras. Seu objetivo é promover financiamentos a exportações com “encargos compatíveis com os praticados no mercado internacional”. As empresas com faturamento anual máximo de R$ 600 milhões estão entre o público-alvo do programa, que tem o Banco do Brasil como agente financeiro.

Em 2016, o valor total das exportações apoiadas pelo programa atingiu US$ 5,8 bilhões, segundo dados do Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços. O setor de máquinas e equipamentos agrícolas e tratores foi o responsável por aproximadamente US$ 357 milhões de exportações amparadas pelo programa no ano passado, sendo que US$ 99,7 milhões destinaram-se a países do continente africano, tendo sido a África do Sul o principal destino.

ARBUS (Divulgação Jacto)

HISTÓRICO DO PROGRAMA

O programa Mais Alimentos África é uma iniciativa do Governo brasileiro, decorrente do “Diálogo Brasil – África sobre Segurança Alimentar, Combate à Fome e Desenvolvimento Rural”, evento realizado em Brasília entre os dias 10 e 12 de maio de 2010. Para atender às solicitações de apoio e cooperação técnica realizadas por países localizados fora do continente africano, no âmbito da Cooperação Sul-Sul, a Secretaria de Agricultura Familiar e do Desenvolvimento Agrário propôs a expansão do Programa Mais Alimentos.

Com o ingresso de Cuba e interesse de outros países latino-americanos, o Mais Alimentos África passou a ser denominado, a partir de janeiro de 2012, Mais Alimentos Internacional (PMAI). O objetivo do programa é estabelecer uma linha de cooperação técnica direcionada a apoiar a produtividade de pequenos agricultores e a produção de alimentos em países em desenvolvimento, de forma a promover a segurança alimentar e nutricional.

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