Em 2050, 2,76 bilhões de muçulmanos viverão no planeta, contra os 1,3 bilhões atuais, segundo uma estimativa do instituto americano Pew Research Center. Isso corresponderá a ⅓ da população mundial no período. Com esse aumento, crescerá também a demanda por produtos halal, sobretudo alimentos. O comércio global de gêneros alimentícios halal movimentou cerca de US$ 1,2 trilhão no ano passado e deve chegar a US$ 1,9 trilhão em 2022, segundo uma estimativa do Halal International Accreditation Forum.  O Brasil já é reconhecido no mundo islâmico como um dos países que mais tem expertise na produção desse tipo de alimento, sobretudo por conta  da sua atuação no setor de proteínas. Contudo, pode se tornar um player ainda mais relevante. 

+ Halal (permitido) é tudo aquilo que está em acordo com as leis islâmicas e sendo assim livre para consumo pelos muçulmanos. Segundo as crenças muçulmanas, o alimento pode influenciar a alma, comportamento, saúde moral e física do ser humano. Com isso, o Islã tornou obrigatório que os muçulmanos conheçam a origem daquilo que consomem. Dessa forma, o Islamismo orienta os muçulmanos a verificar se esses produtos estão em conformidade com as regras religiosas ou não. Tudo que está em conformidade é denominado “halal”. O segmento Halal não se limita aos produtos alimentícios: produtos farmacêuticos, cosméticos e até mesmo serviços de turismo e financeiros podem ser incluídos na categoria

Números impressionantes

Segundo a Câmara do Comércio Árabe-Brasileira (CCAB), o Brasil exportou US$ 3,95 bilhões de proteína animal de origem bovina e de aves para os países árabes no ano passado. “Existe uma grande grande demanda para o mercado halal, por conta da qualidade do produto brasileiro e da efetividade das empresas brasileiras em atender os requisitos. Então, todas essas questões tornam o Brasil um importante mercado para o abastecimento de produtos halal para os países muçulmanos”, explica Nasereddin Khazraji, diretor da Alimentos Halal Brasil, certificadora ligada ao Centro Islâmico no Brasil.

As tratativas referentes ao halal são de competência das empresas certificadoras no Brasil e das autoridades religiosas dos países importadores. Já o governo brasileiro, por sua vez, fornece o suporte necessário para que as empresas produtoras e exportadoras sigam sólidas em seu papel como fornecedoras destes produtos. 

A produção halal é certificada em várias etapas, desde a alimentação dos animais, até o abate e o armazenamento.  “Ajudamos o frigorífico brasileiro a oferecer esse produto de acordo com os requisitos e condições que o cliente exige”, completa Khazraji.  

Mais de 300 frigoríficos brasileiros já estão habilitados para atuar no mercado muçulmano.  O Brasil atualmente exporta para 57 países islâmicos, – sendo 22 países árabes – e é atualmente o maior produtor e exportador de carne de frango halal do mundo, de acordo com a Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA). Quase 2 milhões de toneladas foram exportadas no ano passado. 

No mercado de carne bovina, por sua vez, o Brasil bateu recorde de exportações em 2018, quando o país embarcou 341 mil quilos da proteína. O número representa 20,8% do total vendido no mundo, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec).

O Brasil acumula essa expertise desde o início dos anos 1980, quando os frigoríficos locais fizeram o primeiro embarque de frango halal. 

Planta da OneFood

Investimentos Árabes

Segundo a CCAB,  existe um interesse, por parte dos árabes, na formatação de empreendimentos de capital árabe-brasileiro para otimizar a cadeia produtiva e logística do alimento halal. Isso iria diminuir o custo para o consumidor final uma vez que parte do processo produtivo seria transferido para o país de destino do produto. Um exemplo concreto é o da companhia brasileira Brasil Foods (BRF), que tem parte da empresa One Foods, antes chamada de  Sadia Halal. Com sede em Dubai, nos Emirados Árabes, a empresa possui cerca de 15 mil funcionários e fornece produtos a partir de 10 plantas industriais, sendo oito no Brasil, uma em Abu Dhabi e outra na Malásia.

Ela detém 45% do mercado de frango na Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Qatar e Omã. A distribuição é feita com estrutura própria e a comercialização inclui diversas marcas, incluindo a Sadia, referência no Brasil e em diversos países. 

Ainda segundo informações da CCAB, os fundos soberanos árabes exercem um papel de destaque em investimentos no mercado de alimentos halal. Um exemplo é o fundo SALIC, da Arábia Saudita, que há anos faz aportes sistemáticos em produtores de alimentos no mundo todo.

O SALIC assumiu o controle do frigorífico Minerva há cerca de quatro anos, e se tornou o maior exportador de carne bovina do Brasil e um dos principais fornecedores de proteína bovina halal para o mundo árabe. O fundo tem ainda contribuições em outras grandes empresas de alimentos brasileiras, entre elas a própria BRF.

Produtos halal em supermercado australiano

2019: um ano promissor 

No acumulado de janeiro a julho de 2019, as vendas de produtos variados do Brasil à países árabes renderam US$ 7,1 bilhões, um aumento de 16,9% em relação aos sete primeiros meses do ano passado, ao passo que as exportações brasileiras como um todo recuaram 4,7% na mesma comparação. 

O volume de exportação de carne halal bovina brasileira para os Emirados Árabes Unidos já cresceu 439,84% no primeiro semestre de 2019 em comparação com o mesmo período do ano anterior. Com o apoio do governo brasileiro, houve aumento das exportações não apenas para os Emirados Árabes, mas para todo o bloco de países árabes.

Câmara Árabe: parceira essencial 

Fundada em 1952 por um grupo de empresários brasileiros de origem sírio-libanesa interessados em incrementar o fluxo comercial entre o Brasil e os países do Oriente Médio, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira  se tornou o órgão de representação comercial da Liga Árabe no Brasil e dos interesses comerciais brasileiros nos países árabes. 

A Liga Árabe é a terceira maior parceira comercial do Brasil no mundo e o segundo principal destino dos produtos do agronegócio brasileiro. No mercado de alimentação halal, a CCAB  exerce um papel importante na verificação dos documentos dos produtos exportados para os países árabes, inclusive aqueles que necessitam de certificação, como as proteínas animais.

Tamer Mansour

+ Tamer Mansour, Secretário Geral da Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, participará de uma sessão do Fórum Brasil África 2019: Segurança Alimentar – caminho para o crescimento econômico, um evento que será realizado em São Paulo no próximo mês, com o apoio da ATLANTICO. Para mais informações: https://forumbrasilafrica.com

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