Segundo Marcel Mazoyer e Laurence Roudart, autores do livro “A História das Agriculturas no Mundo”, a razão de produtividade entre os produtores rurais mais produtivos e menos produtivos do mundo no período entre guerras era de 10 vezes. Cinquenta anos depois, após a introdução de avanços tecnológicos decorrentes da crescente mecanização e da revolução verde, a mesma razão alcançou o valor de 2000 vezes. Grande parte destes ganhos de eficiência foi capturada por economias desenvolvidas e por algumas poucas regiões em países em desenvolvimento. Em artigo recente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), intitulado “Eficiência Produtiva e Pobreza Rural no Nordeste Brasileiro”, os autores destacam a evidência de que nos últimos 20 anos a agricultura brasileira e chinesa apresentaram as taxas mais aceleradas de crescimento de produtividade no mundo. Contudo, o desempenho produtivo da agricultura brasileira também foi muito heterogêneo, principalmente no que diz respeito a região nordeste, que não acompanhou o desempenho das demais regiões do país. A contribuição do trabalho do IPEA foi o de identificar que o baixo dinamismo da região está especialmente relacionado ao desempenho do semiárido. Um traço comum das regiões semiáridas de países em desenvolvimento é o baixo crescimento, altos níveis de pobreza e maior exposição a mudanças climáticas. Tais regiões são particularmente suscetíveis a períodos de secas e chuvas irregulares, além de apresentarem baixa produtividade, infraestrutura deficiente, escassez de água e acesso limitado a diferentes tipos de mercados. Em dezembro deste ano foi realizado no Banco do Nordeste, sob a organização do Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE) e do Banco Mundial, o seminário “Avaliação da Seca de 2010-2016 no Semiárido”. No evento foi lançado o livro: “Secas no Brasil: Política e Gestão Proativas”. Uma conclusão das discussões foi que, ao longo do tempo, os formuladores de políticas alcançaram em um diagnóstico mais acurado do problema das secas, o que tem proporcionado planejamento e desenho de políticas mais efetivas. Soluções inovadoras têm sido construídas neste sentido. Os mesmos avanços têm sido alcançados por pesquisadores e formuladores de políticas de outras regiões semiáridas quentes do mundo, como é o caso do Continente Africano. Aumentar a resiliência das famílias e dos produtores rurais destas regiões é um desafio de grandes proporções. Neste sentido, a cooperação e o intercâmbio de informações técnicas, pesquisas, soluções, inovações e acervo de boas práticas são objetivos a serem perseguidos por todos nós, agentes diretamente envolvidos nas formulações de políticas de desenvolvimento para tais regiões.
“AUMENTAR A RESILIÊNCIA DAS FAMÍLIAS E DOS PRODUTORES RURAIS DESTAS REGIÕES É UM DESAFIO DE GRANDES PROPORÇÕES”.