Sediada na região do Cariri, no Estado do Ceará um dos maiores polos de fabricação de calçados do Brasil, a empresa Vizzia quer incluir a África em seu radar. Consolidada no mercado brasileiro, onde já existe há duas décadas e emprega diretamente cerca de 400 funcionários, a empresa quer seguir os passos de alguns de seus concorrentes. Entre elas a gaúcha Bottero, que vende para a África do Sul e Moçambique, e a Beira Rio, que atua nos países árabes do continente, como Egito, Marrocos, Argélia, Tunísia e Líbia.
“Já vendemos para todo o Brasil e para alguns países da América do Sul e do Oriente Médio. Temos também prospecções de negócios com a Europa, mas ainda não temos nada realizado por lá”, conta o empresário Glaidston Gonçalves de Lucena, dono da empresa.
A busca pelo mercado externo é uma tendência seguida por muitos fabricantes brasileiros de calçados. O mercado doméstico, responsável pela absorção de mais de 85% do total produzido pelo setor (mais de 940 milhões de pares por ano), está em baixa. No primeiro semestre do ano – no comparativo com igual período do ano passado — indicadores elaborados pela Associação Brasileira das Indústrias de Calçados (Abicalçados) apontam para quedas de 0,4% nas vendas.
Glaidston Gonçalves de Lucena
O dono da Vizzia atribui à recessão econômica a responsabilidade por essa crise. “O poder aquisitivo do povo diminuiu”, reclama. “Nosso produto, como não é de valor agregado muito alto, ainda consegue se manter. Mas os outros não estão conseguindo”.
Por outro lado, as exportações cresceram 8,2% em volume e 3,6% em receita entre janeiro e julho deste ano, se comparada ao mesmo periodo do ano passado. “Nossa equipe tem viajado constantemente, nosso setor comercial não para. Não podemos ficar esperando. É esse esforço que ainda tem nos ajudado a continuar com números próximos aos do passado”, afrima Glaidston Gonçalves de Lucena.
À ATLANTICO, ele confirma que sua equipe já estuda desembarcar seus produtos no mercado africano. “Nossos produtos se encaixam perfeitamente ao clima da África. Temos sandálias abertas, boas para o clima tropical. Então o que falta para irmos é o acesso correto, chegar nos compradores. Ainda não encontramos pessoas com as qualificações ideais para conseguir adentrar nesse mercado”, revela.
Um produto da Vizzia
Em Juazeiro do Norte, as primeiras fábricas de calçados surgiram na década de 1970, ainda improvisadas nos quintais das casas, e começaram a se desenvolver a partir da década de 1990. O setor já possuiu 250 indústrias e empregar 15 mil pessoas na região. “Nesses últimos quatro anos tivemos uma queda absurda. Praticamente 50% das fábricas de calçados fecharam, e isso tem atingido o país todo, tanto em empresas pequenas como em empresas de grande porte”, lamenta Glaidston Gonçalves de Lucena.
O Ceará ocupa o segundo lugar no ranking dos estados que mais exportam calçado exportado. Foi de lá onde partiram, nos oito primeiros meses de 2019, 26 milhões de pares que geraram US$ 160,4 milhões. O estado perde para o Rio Grande do Sul, que segue sendo o principal exportador de calçados do Brasil, abocanhando 46% do total gerado com os embarques em 2019.
Com reportagem de Emanuel de Macêdo