Fruto da cooperação técnica realizada com o Brasil, os educadores de Cabo Verde comemoram o lançamento do 1º Dicionário de Língua Gestual de Cabo-verdiana. Considerado histórico, o documento pretende promover a unificação da língua gestual dos alunos surdos em todo o país, além de servir como um instrumento de alfabetização e ferramenta de trabalho para os professores do país.
Produto final de um importante projeto de cooperação técnica chamado “Escola de Todos – Fase 2”, o dicionário foi coordenado pela Agência Brasileira de Cooperação (ABC) e implementado tecnicamente pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) e pelo governo de Cabo Verde.
Por mais de dez anos, o projeto desenvolveu diversas ações para promover a inclusão de pessoas com deficiências nos sistemas de ensino cabo-verdianos e o lançamento do dicionário é considerado o ápice do projeto.
“Esse é um projeto que abarca, fundamentalmente, duas áreas: a educação e a inclusão. E ele está, inclusive, totalmente alinhado com o nosso objetivo de não deixar ninguém para trás”, afirma o Secretário de Estado Adjunto da Educação, Amadeu Cruz. “Esse dicionário contribuirá para que agora a comunidade surda tenha muito mais meios de fazer parte, efetivamente, da nossa sociedade. A comunidade surda terá acesso a mais oportunidades, ampliará seus rendimentos e terá uma vida mais digna”.
“O registro da língua traz dignidade, reconhecimento e pertencimento”.
Como Cabo Verde é um país composto por várias ilhas, existem diferenças nos gestos utilizados pelas comunidades surdas em cada uma das ilhas. A pesquisa e metodologia utilizada para o desenvolvimento do dicionário levou isso em consideração. Pesquisadores da UFSM visitaram as ilhas, filmaram os diversos gestos e, na volta ao Brasil, desenvolveram uma metodologia de identificação do significado e atribuição gráfica dos gestos. O dicionário passou por um total de 17 revisões e validações, pelos parceiros cabo-verdianos, até chegar à sua versão final. O registro atual deverá ser ajustado ao longo do tempo.
Amadeu Cruz (direita) com a equipe
“O registro da língua traz dignidade, reconhecimento e pertencimento. O diferencial do ser humano, quanto aos outros animais é, justamente, a língua. E esse dicionário é a expressão da língua usada pela comunidade surda de Cabo Verde. É uma honra e privilégio, para a ABC, fazer parte desse momento histórico”, relata Anna Perez, responsável pelos projetos de cooperação técnica da ABC com Cabo Verde.
“Nosso projeto contribuiu não só para formar sociedades mais inclusivas, mas também espaços escolares mais inclusivos e professores mais qualificados para lidar com alunos com deficiências”, avalia Ana Claudia Pavão, coordenadora do projeto pela UFSM e integrante do projeto desde o início.