Aos 33 anos, Mohammed Awudu, é considerado o mais famoso habitante de Nima, bairro localizada na Grande Acra, em Gana. Moh, como é conhecido por lá, utiliza o grafite para colocar cores em lugares antes cinzentos. Sua arte ganhou notoriedade mundo afora ao retratar, através de uma pintura, um dos piores desastres naturais de Gana. O ano era 2015. Enchente e fogo mataram dezenas de pessoas em Acra. A pintura chamava atenção pelo realismo, pela sensibilidade e pelo colorido.
Hoje, Moh Awudu dialoga com artistas de rua do mundo inteiro e trabalha para revitalizar áreas degradadas da capital ganense. Desses diálogos surgiu um convite para participar, em 2018, da Bienal Internacional do Grafite, que aconteceu em São Paulo reunindo cerca de 80 artistas internacionais.
À ATLANTICO, ele fala como foi essa experiência, de onde vem inspiração para pintar e o que está planejando para o futuro.
ATLANTICO – Me fale sobre sua experiência no Brasil. Primeiro de tudo, como surgiu o convite?
Moh Awudu – A experiência foi ótima. Em 2012, eu trabalhei com a Embaixada Brasileira em Gana em um projeto de arte sobre o povo Tabom. Aí eu conheci o Binho e o Alexandre Keto. Nos tornamos bons amigos e sempre aprendi muit os deles. Daí o surgiu o convite para fazer parte da Bienal Internacional do Grafiti.
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Moh Awudu em São Paulo
ATLANTICO – O grafite é muito representativo em São Paulo. O que você achou? Gostou do que viu por lá?
Moh Awudu – Sim. São Paulo é uma cidade que sempre fez parte dos meus sonhos. Eu penso que Acra também poderia usar o grafite como meio para promover a cultura e a história. Me senti em casa em São Paulo porque existem muitos a rtistas e também porque os moradores da cidade em geral apreciam a arte de rua.
O mais famoso painel de Moh Awudu
ATLANTICO – Sua arte é colorida e repleta de “humanidade”. De onde vem essa inspiração?
Moh Awudu – Minha arte representa meus espíritos interiores de onde eu cresci em Nima, Accra Gana e mostra a vida cotidiana. Tento mostrar as mulheres africanas para que sejam mais influentes na sociedade. Fazendo elas serem ouvidas eu posso ajudar a tornar o mundo um lugar melhor. Também sou inspirado a fazer coisas positivas para inspirar a próxima geração de crianças que estão me procurando e tentar contribuir no desenvolvimento do mundo através da arte. Se quisermos mudar a sociedade, temos que assumir a responsabilidade em nossos pequenos cantos.
Tento mostrar as mulheres africanas para que sejam mais influentes na sociedade. Fazendo elas serem ouvidas eu posso ajudar a tornar o mundo um lugar melhor.
ATLANTICO – Quais são os desafios para ser um artista em Gana? Você conversa sobre seus amigos brasileiros sobre o apoio governamental?
Moh Awudu – Para mim, o único desafio é o governo não apoiar os artistas quando fazemos projetos. Também não financiam os artistas em viagens para representar Gana nos eventos internacionais. Já conversei com meus colegas brasileiros sobre isso e a realidade é outra. Existe apoio do governo brasileiro, que dá espaço para o grafite, embora eles precisem de um apoio maior para eventos futuros.
CHALE WOTE Street Art Festival, 2017. Foto: Abdul Arafat
ATLANTICO – Você pretende voltar para o Brasil? Chegou a fazer algum contato com artistas do Brasil e pretende fazer alguma parceria com eles?
Moh Awudu – Sim, eu quero voltar para o Brasil qualquer dia desses. São Paulo é a capital da arte da rua no mundo. Eu fiz um monte de contato e grandes conexões e tenho planos para para colaborar com outros artistas brasileiros, seja aqui em Gana, seja no próprio Brasil.
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ATLANTICO – Quais são seus próximos projetos?
Moh Awudu – Exposição aqui em Gana, continuar o meu projeto de arte de rua chamado “Reimagine Nima” que faz o embelezamento dos murais de Acra e outros festivais internacionais de arte.