Cabo Verde é um país vulnerável aos fenômenos naturais, particularmente às secas. Assim como em qualquer outro lugar do mundo, as atividades antrópicas têm como consequência a alteração dos microclimas, a desertificação e chuvas torrenciais. O país insular, e por isso possui aspectos vulcânicos, é dominado por ecossistemas de montanha e também um vulcão ativo, aumentando ainda mais a sua vulnerabilidade. Tendo em vista esses fatores, o país tem investido em soluções para driblar essas dificuldades, e combater a fome. 

Foto: Praia, Cabo Verde (FAO)

“Meu país e alguns outros de nossa sub-região africana estão envolvidos em processo de atenuação dos efeitos da seca. No passado, enfrentamos a fome e a morte em Cabo Verde por razões de seca e estiagem. Mas aprendemos a viver e a conviver com a seca em uma harmonia simbiótica que nos permitiu afastar a fome em Cabo Verde, apesar da influência episódica da estiagem hídrica. Passou a estiagem e ficamos de pé”, destacou o presidente do país, Jorge Carlos Fonseca,  durante o 8º Fórum Mundial da Água, que aconteceu em Brasília, em março do ano passado.

Governo e universidade juntos contra a escassez da água 

De fato, a conexão entre a academia e o governo tem resultado em medidas relativamente simples que trouxeram excelente resultados para o País. “São medidas  como conservação do solo e de água, construção de barragens e a captação de água subterrânea. No que toca à agricultura, a introdução de rega gota-a-gota contribuiu para  uma utilização de água mais sustentável”, conta Erik Sequeira, coordenador do Grupo Disciplinar de Ciências Agrárias da Universidade de Cabo Verde, em entrevista à ATLANTICO.  

O sistema de rega gota a gota é hoje um dos mais utilizados no país. O sistema otimiza o consumo de água aproveitada e não umedecem toda a superfície. Como resultado, as perdas de água por evaporação, lixiviação profunda e escorrimento são reduzidas ao mínimo ou eliminadas. Introduzido no país nos anos 1990, hoje o sistema abrange 27% do arquipélago. 

Na Universidade de Cabo Verde, as pesquisas têm se voltado para a gestão da água e a tecnologia está sendo considera uma grande aliada na resolução desses problemas. Um dos estudos feitos por lá, por exemplo, utiliza  sensores para avaliar a qualidade e a quantidade de água ideal para o consumo. 

Devido a localização de Cabo Verde no meio do oceano, a dessalinização da água dos mares  é uma boa alternativa para o país suprimir a falta de água, assim como a agricultura biossalina.

Foto: Costa de Cabo Verde (FAO)

A dessalinização em Cabo Verde iniciou-se em 1968 e, é atualmente responsável  por fornecer água a 80% da população, incluindo os principais centros urbanos, como as regiões de Sal, Mindelo, Boa Vista, e Praia. 

A Empresa Pública de Electricidade e Água, Electra, produz e distribui a água dessalinizada nas ilhas de São Vicente, Sal e na Cidade da Praia. Electra também faz o abastecimento da metade da população do país, só na capital pelo menos 60% da habitantes recebe a água dessalinizada através dela. 

O sistema ainda têm desafios a serem superados. Cerca de 55% de toda a produção é perdida durante o processo de bombardeamento da água para os tanques de distribuição. As perdas são causadas por fugas de água em tubulações e reservatórios antigos para onde é enviada antes de chegar ao consumidor. Outro problema é o valor da água, que ainda é considerado alto para a população, cerca de 0,20 euros para cada bidão de cerca de 30 litros.

População como peça-chave 

“Para mim a população é  a peça chave para superar a crise pois eles têm um papel preponderante na execução de práticas  que ajudem a superar a crise de água, por isso é importante que sejam sensibilizados, formados e envolvidos  em todos os projectos”, enfatiza o pesquisador Erik Sequeira.

Em março deste ano durante o Fórum Internacional sobre Escassez de Água na Agricultura, na capital do país, Praia, foi declarada a intenção do governo em expandir esse número para 100%. Com foco em Cabo Verde, nos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS), e nos países da África Ocidental, o fórum discutiu como o problema pode ser abordado e transformado numa oportunidade para o desenvolvimento sustentável e para a segurança alimentar e nutricional.

Foto: Praia, Cabo Verde (FAO)

“Apesar do clima árido do país, adotando tecnologias inovadoras como a dessalinização, a energia solar, a reutilização de águas residuais para a agricultura e até mesmo a colheita de nevoeiro, 90% da população tem acesso a água potável. Essa é uma situação altamente louvável”, declarou a vice-diretora geral de Clima e Recursos Naturais da FAO, Maria Helena Semedo, durante o evento. 

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