O mundo assiste aos diversos movimentos globais decorrentes da queda na cotação do barril de petróleo atingindo fortemente as economias dependentes deste combustível fóssil como: Venezuela, Nigéria, Angola, Rússia etc. Por aqui o impacto na viabilidade de exploração da camada Pré-Sal é fortemente sentido e ocorre num momento coincidente com o processo de reformulação pelo qual atravessa a Petrobrás.
A consequência é a lamentável postergação dos benefícios sociais que esta atividade econômica reserva para nossa população. Nos demais países atingidos, os efeitos da queda são desastrosos, impondo sacrifícios às populações mais pobres. Urge que os dirigentes destas nações despertem de forma drástica para a consciência de que a diversificação de suas economias, é o único caminho plausível para um desenvolvimento consistente e sustentável ao longo prazo.
Ocorre que em “tempos de vacas gordas”, o discurso da diversificação perde rapidamente prioridade e a exploração de óleo e gás reina em benefícios de poucos e em detrimento da base da pirâmide social. Na África particularmente, a autossuficiência alimentar, a construção do tecido produtivo, a inclusão social por via da educação, a capacitação profissional, a construção e reconstrução de infraestruturas físicas e digitais, o aperfeiçoamento e maturação do processo participativo e democrático das populações, a melhora na distribuição de renda e o rigor contra a corrupção, configuram os caminhos óbvios para uma considerável mudança de patamar e estabelecimento definitivo do desenvolvimento, elevação do IDH e estabelecimento da Paz Regional.
Eis a África que sonhamos em ver, um bastião de prosperidade, o renascimento de uma civilização matriz, merecedora de toda dignidade e protagonismo nas decisões mundiais. Há cerca de um ano tive a honra de ser nomeado como Delegado Oficial para o Brasil, da Confederação Empresarial do Países Africanos de Língua Oficial Portuguesa – CE-PALOP. A Organização sediada em Luanda é o braço empresarial do Fórum PALOP que reúne os Chefes de Estado dos seis países africanos – lusófonos liderados pelo Presidente de Angola.
O presidente da CE-PALOP, Francisco Vianna, tem se revelado um escudeiro das causas africanas e estabeleceu uma agenda pragmática de ações voltadas ao desenvolvimento econômico e social dos países membros: Angola, Guiné-Equatorial, Guiné Bissau, São Tomé e Príncipe, Cabo Verde e Moçambique. Sua intenção com o estabelecimento da delegação brasileira é aproximar o país das gigantescas oportunidades que o desenvolvimento econômico e social destas nações reserva. Eles nos reconhecem pela grandeza de nossa atividade agropecuária, mineral, industrial, de comércio e de serviços e querem de forma pragmática estabelecer relações empresariais capazes de gerar benefícios econômicos autênticos e justos.
Para eles, o estabelecimento de empresas brasileiras a região é sinônimo de absorção de “knowhow”, incremento de emprego e renda, geração de competências, diversificação econômica, aumento de produtividade, abastecimento de seus mercados, agregação de valor aos bens produzidos e maior inserção exportadora de suas economias no contexto global. Em minha experiência à frente da coordenação da Unidade de Internacionalização da Agência de Promoção de Exportações e Atração de Investimentos – Apex Brasil, nos anos de 2008 a 2011, liderei dezenas de ações e missões empresariais ao continente africano.
Participei de negociações governamentais e principalmente empresariais e sempre percebi uma enorme dificuldade por parte dos brasileiros em estabelecer relações de longo prazo com seus congêneres africanas. Os principais motivos que sempre apontaram foram: o alto risco de inadimplência, diferenças culturais, inseguranças jurídicas entre outros. O surgimento da CE-PALOP é em grande parte um alento na resolução destas barreiras. Pretende-se organizar o posicionamento e a interlocução dos investidores, exportadores e das entidades representativas do Brasil com base nos temas estratégicos definidos pelo Fórum PALOP.
Entre as prioridades destacam-se a segurança alimentar, a segurança energética, o desenvolvimento industrial, a consolidação das instituições financeiras, a urgente formação de quadros entre outros. Primeiramente estamos a falar de países irmanados conosco pela rica língua portuguesa. Ressalta-se que no âmbito da CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, o Brasil somado ao PALOP é maioria absoluta de um mercado de 250 milhões de falantes deste precioso idioma. Estamos muito condicionados ao imenso “continente”, chamado Brasil e esquecemos do poder que é “Negociar em Língua Portuguesa no Exterior”.