Há décadas, cientistas de vários países examinam evidências das possíveis forças que levaram à separação da América do Sul e da África. Porém, avanços tecnológicos recentes permitem que Brasil e África sejam novamente interligados. Essa ligação se dá através da implementação do SACS, (South Atlantic Cable System – ou sistema a cabo do Atlântico Sul), um cabo submarino que liga Fortaleza, no nordeste brasileiro, a Sangano, em Luanda, capital de Angola. O primeiro-cabo transatlântico do hemisfério Sul promete não só interligar os dois continentes como também deve colocar Angola no panorama internacional das telecomunicações.

O projeto, uma iniciativa ousada da empresa Angola Cables, joint venture criada em 2009 para comercializar circuitos internacionais de voz e dados através de cabos submarinos de fibra óptica, custa US$ 300 milhões de dólares e vai se integrar ao Monet, um cabo que liga Santos a Fortaleza, no Brasil, e Fortaleza a Miami, nos Estados Unidos. A empresa é a única investidora do SACS e no data center que será construído em Fortaleza e é responsável ainda por cerca de 33% do investimento feito no projeto Monet, junto com outros players do mercado das telecomunicações.

“Estamos convictos de que a parceria estratégica entre Angola e o Brasil – as relações comerciais, culturais e políticas – são muito fortes, desde a criação de Angola como estado independente. A construção de uma ponte, mesmo para transporte de conteúdos digitais entre os nossos países será uma grande vantagem para ambos”, acredita o engenheiro António Nunes, CEO da Angola Cables. “A comercialização com mercados em crescimento e de grande potencial serão sem dúvidas alavancas econômicas importantes para o Brasil”.

Em conversa com ATLANTICO o executivo chamou ainda atenção para o mercado africano, que tem hoje uma das maiores taxas de crescimento no que diz respeito à utilização da internet. Nunes prevê que o aumento do consumo da banda larga seja uma realidade, crescendo com isso o mercado. Ele também acredita que a grande demanda do mercado brasileiro por telecomunicações, que tem crescido vertiginosamente nos últimos tempos, tem como fornecedor de conteúdos digitais as regiões do hemisfério norte por conta da inexistência de cabos para o leste. “O mercado tem sido reprimido devido ao alto custo das ligações internacionais existentes”, argumenta. Existe ainda uma carência de infraestruturas terrestres entre o Nordeste e o Sul do Brasil. “Este cabo irá trazer ao nordeste a parte da infraestrutura necessária para que esta região possa usufruir das telecomunicações e sistemas de informação de uma forma eficiente e economicamente proveitosa estando ligado aos grandes centros de dados do país com capacidade e eficiência”, diz.

“O BRASIL É UM MERCADO ESTRATÉGICO PARA ANGOLA PELO QUE O SUCESSO DESTES PROJETOS PODERÁ ABRIR PORTAS A NOVAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO COM INTERESSE PARA AMBAS AS NAÇÕES”

Um outro aspecto positivo do SACS é o fato da África ter ligações diretas com os Estados Unidos. A partir dos sistemas da Angola Cables os agentes do mercado africano terão conexão direta com os Estados Unidos e com os países da América Latina de forma rápida e eficiente.

Fortaleza: um hub natural

A cidade de Fortaleza, de acordo com a Angola Cables, foi escolhida por ser o percurso mais curto entre Angola e Brasil – cerca de 6.000 km de comprimento –  e também por Fortaleza já ser um hub de cabos submarinos. Contudo, a cidade não tem se beneficiado eficientemente com isso. A criação de um data center comercial voltado para o mercado irá proporcionar oportunidades de negócio não existentes até o momento, segundo a proposta do projeto SACS.

“Esse é um sonho antigo de Fortaleza, que agora se consolida como um polo de tecnologia, que gera emprego, gera renda, é um salto importante para a economia da cidade. Seremos um ponto de conexão de cabos de fibra ótica”, defende o Prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio Bezerra. Ainda segundo ele, a cidade poderá atrair empresas para usar os serviços do Data Center do tipo Tier 3, de porte internacional – o primeiro deste porte nas regiões Norte/Nordeste do País.

Para o embaixador de Angola no Brasil, Nelson Cosme, o projeto da Angola Cables fortalece a relação entre os dois países. “Nossas relações hoje são distintas e baseadas numa parceria estratégica”, destaca. “Os projetos da Angola Cables são realizações que acrescentam aos marcos da história recente das relações entre Angola e o Brasil e dão suporte aos instrumentos de cooperação existentes”

No comando da Angola Cables, o engenheiro António Nunes estabeleceu como meta transformar Angola em um hub das telecomunicações na África. “Acreditamos que uma melhoria no setor das telecomunicações leva consequentemente a benefícios nos setores econômicos”, conta. Sobre o Brasil, o executivo da empresa fala de um lugar de oportunidades. “O Brasil é um mercado estratégico para Angola pelo que o sucesso destes projetos poderá abrir portas a novas oportunidades de negócio com interesse para ambas as nações”. Ou seja: podemos não dividir mais o mesmo continente, como ocorria há milhões de anos. Mas com certeza, estaremos cada vez mais ligados.

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