Nabila Jebbouri é uma jovem pesquisadora marroquina de 28 anos que vem pesquisando os laços culturais entre o Brasil e seu país. Depois de ter participado da promoção do Oásis de Figuig como Patrimônio da Humanidade da UNESCO, ela tem ajudado a Chapada do Araripe, no nordeste brasileiro, a conquistar o mesmo status. Em agosto de 2019, ela participou de um seminário temático para discutir a situação e pretende continuar estudando os aspectos culturais da região.

Nabila Jebbouri (Foto: Agência de Notícias Brasil Árabe)

“Posso dizer que neste primeiro contato pude conhecer a riqueza cultural, ambiental e humana daquela região, ficando encantada com alto potencial culturais, naturais e turísticos da região”, conta ao site ATLANTICO. Nabila foi primeiramente a Pernambuco acompanhar a tradicional festa de São José Belmonte em um intercâmbio para estudo e troca de culturas. “Marrocos e Brasil partilham o mesmo bairro atlântico, que é um pilar para a consolidação e promoção de relações e intercâmbios”, declara.

De Geopark à Patrimônio da Humanidade

“Desde 1997, a Universidade Regional do Cariri (URCA) não tem medido esforços para promover o Cariri como Patrimônio da Humanidade  da UNESCO”, revela José Patrício Melo, professor da URCA e coordenador do setor de cultura do Araripe UNESCO Global Geopark. Ele revela que a ação não teve grandes avanços desde então. Contudo, em 2005 a URCA criou o primeiro Geopark das Américas, no Cariri, e em 2006 passou a integrar a Rede Global de Geoparques – GGN. Já em 2015, o Geopark Araripe ingressa no Programa Internacional de Geociências e Geoparques da UNESCO.

 I Seminário Patrimônio da Humanidade Chapada do Araripe (Foto: Sesc Ceará)

O seminário o qual Nabila fez parte foi uma  iniciativa de várias instituições locais, como a Fundação Casa Grande , a  Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado do Ceará (Fecomércio), a Secretaria de Cultura do Ceará, URCA e o Geopark Araripe. “O seminário permitiu o conhecimento sobre iniciativas de Patrimônio da Humanidade no Brasil, o caminho junto ao Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) para apresentar a candidatura, envolver os poderes públicos para a iniciativa, ouvir a população e a sociedade civil sobre essa iniciativa patrimônio cultural e ouvir experiências internacionais com projetos de desenvolvimento territorial sustentável”, conta Patricio.

Laços culturais e históricos entre Brasil e Marrocos 

A tradição marroquina da Batalha do Oued Al Makhazin (ou a Batalha do Ksar El-Kébir) é celebrada no Brasil como a Batalha dos Três Reis em São José do Belmonte, no estado de Pernambuco. Este fato chamou a atenção de Nabila Jebbouri em sua primeira visita ao Brasil em 2019. 

Reisado no nordeste brasileiro (Foto: Agência Brasil)

“Esperamos realizar pesquisas conjuntas a esse respeito, o que destaca a profundidade da história comum entre o Marrocos e o Brasil”, conta a pesquisadora. Ela voltou ao seu país de origem mas pretende continuar com sua pesquisa e compartilha a ligação histórica entre os dois países.

“Estas relações históricas estão incorporadas na história de Mazagão (El Jadida), um assentamento português criado em 1502 na costa marroquina do Oceano Atlântico pelo sultão Mohammed bin Abdullah Al-Alawi. O nome da cidade e os marcos foram então transferidos para o Brasil. “O Amapá, por exemplo, tem uma cidade chamada Mazagão”, explica Jebbouri.

Ela destaca ainda a importância do envolvimento de instituições governamentais e não-governamentais, além do apoio acadêmico, que “desempenha um papel no resgate da memória comum e na ligação dos laços de amizade e amor”.

As lições do Oásis de Figuig  

O elo entre Figuig e Cariri é mais forte do que se pode imaginar. Isso foi o que mostrou a pesquisadora marroquina Nabila Jebbouri ao participar do seminário realizado em agosto de 2019. O tema de sua palestra foi “Patrimônio e Sustentabilidade do Oásis do Figuig” onde falou sobre a cultura, a natureza e o modo de vida árabe na região. Ela destacou o que mudou após a região se tornar Patrimônio Histórico e traçou um paralelo com a Chapada do Araripe. 

Figuig (Foto: Wikipedia)

Ao comparar a Figuig, cidade ao norte do deserto do Saara, situada no oásis das tamareiras com o território da caatinga do nordeste brasileiro, Jebbouri ilustrou como vivem o povo de lá e qual a importância de apoiar as pessoas dessas regiões. Apesar da zona seca presente em ambos os territórios a população sempre manejou como aproveitar todos os recursos. O seu modo de subsistência ligado à preservação da natureza e subsequentemente da história do local, possui um enorme potencial, como aponta a pesquisadora.

Ela acredita que o reconhecimento do Cariri como patrimônio da humanidade trará visibilidade, crescimento social e econômico. “Isso vai reavivar em todas as pessoas que ali vivem, um sentimento maior de pertencimento e responsabilidade pela preservação de todos os bens naturais e culturais presentes na região”, finaliza. 

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