“O que acontece na África também vai afetar outras regiões do planeta”. Essa foi uma das frases ditas pela ex-Ministra de Relações Exteriores de Guiné-Bissau, Maria Nobre Cabral, sobre o avanço do coronavírus no continente africano. Em um encontro virtual, ela e Otaviano Canuto,  ex-vice presidente do Banco Mundial, e João Bosco Monte, presidente do Instituto Brasil África (IBRAF), discutiram medidas para minimizar o avanço do Covid-19 no continente.

Maria Nobre Cabral

“Os mercados têm ficado abertos por pouco tempo. Se a situação continuar assim, as pessoas vão começar a ter problemas para se alimentar”, disse Cabral. Ainda segundo ela, a pandemia tem testado os laços de cooperação internacional e tem passado a mensagem que pensar em saúde é mais importante que pensar guerras ou investir em armamentos. “Se a COVID-19 afetar a África da forma como se tem falado, é possível que ele ganha forças novamente para afetar o mundo. Então essa questão é muito delicada”, contextualiza ela.

Para Canuto, o futuro após o avanço do novo coronavírus pode ser visto sob óticas positivas e negativas. “Por um lado, essa situação mostrou que os desafios a serem enfrentados no futuro precisam de ações conjuntas entre países. Entretanto, temo que essa pandemia reforce ações que temos acompanhado nos últimos anos, como países se fechando”, argumentou.

Otaviano Canuto

Segundo ele, a prática de distanciamento social, que tem sido discutida em todo mundo, precisa ser aplicada junto de outras medidas assistenciais para a população. “É preciso que os setores públicos façam o que chamamos de ‘conhecer os pobres pelo nome’, pois assim é mais fácil chegar nessas pessoas com o suporte necessário”, explicou.

Canuto reforça que é importante que a comunidade internacional faça esforços para minimizar esses impactos na África. Ele acredita que, mesmo depois que a situação se normalize, ainda será necessário um tempo de retomada de confiança, que pode afetar bastante alguns países, como os dependentes do turismo, por exemplo.

Atualmente o continente africano possui cerca de 15.000 mil casos confirmados de Covid-19 e quase 800 mortes. A África do Sul, uma das principais economias da região, é o país mais afetado. Atualmente, apenas o Lesoto não registrou casos oficiais no continente.

João Bosco Monte

Durante o diálogo, o presidente do IBRAF reforçou a afirmação de que o continente africano é um dos grandes provedores de recursos no mundo. “O que acontece na África, mesmo no campo econômico, vai atingir outras regiões”, continuou. O papel da Cooperação Sul-Sul também não ficou de fora da discussão. Os participantes concordaram que a transferência técnica de conhecimento e boas práticas é fundamental, não apenas em tempos de pandemia. E, mesmo com os próprios problemas da sua realidade, o Brasil pode sim servir como exemplo para a África.

+ Em formato de webinar, o diálogo foi organizado pelo IBRAF e transmitida ao vivo no YouTube. 

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