Em algumas semanas, os olhos do mundo vão estar voltados para Edimburgo, na Escócia, onde será realizada a COP 26, a principal cúpula de líderes globais para discutir as alterações climáticas e seus impactos ao redor do mundo.

Dados do relatório da Organização Mundial Meteorológica (WMO) das Nações Unidas mostram que 2019 foi o segundo ano mais quente já registrado e a década 2010-2019 foi a mais quente até então. As alterações na temperatura global resultam em eventos climáticos extremos, como enchentes, tornados, incêndios florestais e períodos de seca severos.

O impacto chega para todos, mas afeta, principalmente, quem já é socialmente mais vulnerável. Pequenos produtores agrícolas, por exemplo, se vêem desafiados a superar os problemas causados pelo aquecimento global. E cada região enfrenta desafios específicos.

João Paulo Alves, Coordenador de Projetos do Instituto Brasil África, avalia que as alterações climáticas não podem ser combatidas sem o fortalecimento de duas linhas de ação vitais atualmente: empoderamento juvenil e promoção da igualdade de gênero.

No cenário das Américas e Caribe, um intenso êxodo rural ocorrido nos subcontinentes da América do Sul e Central contribui para o agravamento da situação dos jovens.

“São subcontinentes onde 87% da população vive em cidades, se igualando a América do Norte e Europa. Então essas regiões passaram por um êxodo rural muito intenso e as cidades, apesar da industrialização, não estavam preparadas para receber esse contingente populacional vindo do ambiente rural”, explica Alves.

O coordenador afirma que este êxodo rural em massa gerou um cisma entre o ambiente rural e o ambiente urbano na América Latina e Caribe. “O ambiente rural é visto como um atraso e o urbano como sinônimo de sucesso. E muitos diálogos focados no empoderamento juvenil giraram em torno dessa temática porque o jovem precisa entender e superar essa ideia e começar a ver o campo como um ambiente viável para o trabalho e para a vida como um todo”.

Para que isso aconteça, é necessário a implementação de políticas públicas que permitam a empregabilidade no meio rural e um trânsito de pessoas para com campo de forma facilitada.  “Isso tudo deve ser feito para mudar a visão da população nessa relação entre campo e cidade. Que o campo passe a ser visto como um lugar possível para desenvolver uma vida como qualquer outra, ainda mais com tantas tecnologias disponíveis”, analisa Alves.

A Dra. Marcia Brandon, do Caribbean Center of Excellence for Sustainable Livelihoods, acredita que os jovens de hoje já começam a voltar os olhares para o cenário rural.

“Uma das questões que sempre tivemos muito cuidado, para evitar que as pessoas comprassem, é a ideia de que os jovens não se interessam pela agricultura. Realmente é um mito. E não sei por que continuamos dizendo isso. Agora, mais do que nunca, há muitos jovens no Caribe [no campo] (…) e muitos jovens criativos têm ido para as áreas rurais, você pode ver no Facebook, todos os dias: na Jamaica, em Belize, em Trinidad, há homens e mulheres jovens que se tornaram agricultores”

O Caribbean Center of Excellence for Sustainable Livelihoods é um dos participantes do ciclo atual de Comunidades de Prática desenvolvido pelo Instituto Brasil África. O programa reúne entidades da América Latina e Caribe para uma troca de experiências também com organizações dos países africano. A iniciativa é promovida em parceria com o Fundo Internacional para Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que reúne boas práticas e soluções rurais no Rural Solutions Portal.

Mulheres no campo

De acordo com dados da ONU, mulheres agricultoras possuem menos acesso que homens à terra para cultivo e tecnologias e insumos que ajudem na produção.

A Dra. Sandra Nespoio Bergamin, da União Nacional das Cooperativas da Agricultura Familiar e Economia Solidária, organização que também participa das Comunidades de Prática, comenta sobre a relação entre a mulher e o campo.

“Nós fomentamos as organizações das mulheres em todos os estados onde [a UNICAFES] tem atuação. A partir do momento que temos uma rede, ela se estrutura a partir da demanda, necessidade e potencialidade que cada mulher tem na sua região”, explica.

Bergamin afirma que, apesar das diferenças regionais que o Brasil possui por sua extensão territorial, a união de forças acontece para garantir a participação feminina nos espaços. “Apesar de termos diferenças regionais muito grandes no Brasil, o que nos unifica são as ações que buscam construir momentos em que as mulheres possam ter a sua participação garantida nos espaços, seja pela formação das mulheres, seja pelo diálogo sobre desigualdade de gênero, seja pela conscientização sobre a violência contra a mulher”.

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