Os atraentes desafios de Lagos

(KASHIF PATHAN)

O Estado nigeriano de Lagos, que ocupa um território inferior ao do Distrito Federal, ostenta um PIB de cerca de 90 bilhões de dólares, semelhante ao do Rio Grande do Sul. Trata-se da sétima economia da África, superada apenas pela Nigéria, África do Sul, Egito, Marrocos, Angola e Argélia. A Câmara de Indústria e Comércio de Lagos (“Lagos Chamber of Industry and Commerce – LCCI”) é a maior associação empresarial do país. Estima-se que seus 1.800 associados detenham 60% da produção industrial, 65% do comércio e 75% dos serviços financeiros da Nigéria. Lagos apresenta inconvenientes a eventuais investidores – e não apenas no que respeita a impostos. A infraestrutura urbana é deficitária em transportes e abastecimento de energia elétrica, água e serviços de esgoto. Há, ainda, carência de mão-de-obra especializada, em que pese sua população estimada em 21 milhões de habitantes. Tais desafios são comuns aos investidores de qualquer país estrangeiro. Não há problema algum, em Lagos, que não possa acarretar o fornecimento de bens e serviços de empresas brasileiras. Ainda no século XX, o “Brazilian Quarter” da Ilha de Lagos configurava o maior conjunto arquitetônico brasileiro no exterior. Destinado, no século XIX, a moradias de ex-escravos retornados do Brasil, o Bairro se encontra agora descaracterizado e em situação de completo abandono pelas autoridades locais. Ainda existem alguns casarões: a “Casa da Água“, por exemplo, tornada conhecida no Brasil pelo romance de Antônio Olinto, permanece intacta, habitada até hoje por descendentes de brasileiros. O Carnaval de Lagos, realizado no feriado de 26 de dezembro (“Boxing Day”), deve ter sido Festa de Reis em sua origem. Tem o Bumba-Meu-Boi como uma de suas principais atrações. No centro da Ilha, pode-se comprar feijão preto, denominado “feijão¨, e uma das iguarias famosas dos residentes se chama “mingau”. Em funerais no Bairro, costuma-se exibir o passaporte do Império do Brasil no nome do antepassado que retornou à Nigéria. Os nigerianos descendentes de brasileiros têm orgulho de sê-lo. Do Brasil, porém, só conservam a memória que lhes restou da tradição oral e alguns poucos sobrados.