Enquanto a atividade econômica de todo mundo sofre com a pandemia causada pelo novo coronavírus, é perceptível, também, uma diminuição na emissão de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera. Dados iniciais mostram que, só na China, a redução foi de 25% até março. Estudo da Comissão Econômica da ONU para a África (UNECA) mostra que esse momento pode servir de lição para enfrentar o aquecimento global.

A análise, realizada pelo Centro Africano de Mudanças Climáticas, vinculado à UNECA, vê a situação com cautela. Segundo o documento, a redução nas emissões pode ser algo apenas momentâneo e voltará a crescer junto à economia global após a pandemia. As mudanças atuais, então, teriam pouco efeito em um longo prazo.

“Esse alívio temporário nas emissões não altera a trajetória do planeta com base em nossos modelos atuais de produção e consumo econômico. O dióxido de carbono já acumulado na atmosfera continuará afetando o sistema climático nas próximas décadas. No entanto, reduções radicais de emissões aumentam a possibilidade de garantir que essa interferência seja reversível”, afirma o estudo.

A situação dos países africanos

Uma preocupação compartilhada por representantes da agenda ambiental ao redor do mundo está no fato da pandemia ter deixado a causa em segundo plano. A necessidade de retomada da atividade econômica após o coronavírus, pode fazer as emissões voltarem a crescer de forma substancial.

A UNECA, no entanto, vê que existem exemplos positivos para lidar com o aquecimento global. A organização cita as ações rápidas feitas por governos, os pacotes de apoio econômico e a valorização dada aos estudos científicos. 

“A resposta global ao enfrentamento das mudanças climáticas e à construção de economias e sociedades mais resilientes dependerá muito de como os países também adotam ações rápidas e transformadoras para diminuir o déficit de financiamento para lidar com as mudanças climáticas”, continua o estudo. 

A Instituição, no entanto, lembra que as contribuições destinadas à ação climática da maioria do continente depende substancialmente da disponibilidade de financiamento climático e os países africanos já têm menos recurso fiscal para poder injetar estímulo em suas economias.

“Estratégias [dos países desenvolvidos], incluindo alívio da dívida para os países africanos, bem como inovações na mobilização de financiamento do setor privado para lidar com as mudanças climáticas, tornam-se ainda mais urgentes. Como o alívio da dívida não requer ‘dinheiro novo’, talvez seja uma opção que possa ser implementada mais rapidamente”, sugere o estudo.

As lições positivas

A UNECA conclui a análise frisando a necessidade do desenvolvimento de estratégias de longo prazo, pós-pandemia, que sejam focadas em resiliência e baixa emissão de carbono. 

“Com o inevitável aumento do desemprego que resultará dos impactos do COVID-19, uma recuperação econômica africana baseada na resiliência e alimentada pelos abundantes recursos de energia limpa do continente criará mais empregos, aumentará o comércio e contribuirá para a ação climática global, enquanto aborda o déficit crônico de acesso à energia do continente”, finaliza o estudo.

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