Após liderar o Zimbábue por mais de três décadas, o ex-presidente e líder da independência do Zimbábue Robert Mugabe será provavelmente lembrado como um homem de duas faces: o combatente pela liberdade que prometeu uma nação próspera, mas que se tornou o ditador de um povo que vive na extrema pobreza.
Mugabe morreu nesta sexta-feira (06) aos 95 anos – quase dois anos após renunciar ao cargo que ocupou durante 37 anos – em um hospital de Cingapura, onde recebia tratamento em um hospital havia pelo menos cinco meses. Segundo informações da imprensa local, ele estava acompanhado da família e da esposa, Grace. As causas da morte não foram relevadas.
O anúncio da morte foi feito pelo seu sucessor, Emmerson Mnangagwa. “É com profundo pesar que anuncio a morte do pai fundador e ex-presidente do Zimbábue, o comandante Robert Mugabe”, disse Mnangagwa no Twitter.
Em novembro do ano passado, Mnangagwa anunciou que seu antecessor não conseguia mais andar, mas não esclareceu qual era problema de saúde do ex-presidente.
Para o atual presidente, antigo braço direito de Mugabe, o ex-líder era “um ícone da libertação, um pan-africanista que dedicou a sua vida à emancipação e ao empoderamento do seu povo. A sua contribuição para a história da nossa nação e do nosso continente nunca será esquecida. Que sua alma descanse em paz eterna”, acrescentou.
De herói da independência à presidência
Mugabe nasceu em 21 de fevereiro de 1924. Na década de 1970, ele liderou uma guerrilha contra o domínio britânico no país. Em 1979, a então primeira-ministra britânica, Margaret Thatcher, anunciou que o Reino Unido reconheceria oficialmente a independência da Rodésia, o nome do país durante o período colonial.
Mugabe foi eleito como primeiro-ministro no ano seguinte e, em 1987, como presidente, governando o país durante 37 anos, antes de perder poder e sofrer um golpe de Estado em novembro de 2017.
Primeiras atrocidades
Mugabe chegou ao poder, em 1980, Mugabe canalizou esforços com a promessa pública de que melhoraria a vida dos cidadãos do país. Ele introduziu o ensino primário gratuito e o acesso à assistência médica básica para quem tinha baixos rendimentos. Contudo, as duas medidas, chegaram a apenas uma parcela reduzida da população.
Em 1982, o partido de Mugabe – (ZANU-PF) – e o seu antigo aliado Joshua Nkomo entraram em uma disputa por poder. Nesse período que as Forças Armadas, leais a Robert Mugabe, cometeram as piores atrocidades e violações de direitos humanos após a independência do país. Cerca de 20 mil civis foram mortos, muitos queimados vivos.
Em 1987, Nkomo e Mugabe fizeram as pazes e o chefe de Estado nomeou-o vice-presidente do Zimbábue. Depois disso, Mugabe concentrou as políticas econômicas na produção de cereais. Mesmo assim, os cidadãos continuam sem acesso a comida, água potável ou outras necessidades básicas..
Reformas
Robert Mugabe também é lembrado pela uma desastrosa reforma agrária. Ele deu início a um processo de nacionalização forçada das propriedades agrícolas nas mãos da população branca, afirmando que pretendia redistribuí-las para população negra. A medida, segundo ele, iria “inverter os desequilíbrios econômicos” entre brancos e negros.
A família de Mugabe e a elite partidária do ZANU-PF acabaram sendo os grandes beneficiários desta medida, que também deixou milhares de trabalhadores negros sem trabalho e sem casa.
Rapidamente o Zimbábue deixou de ser o celeiro da África, como era conhecido no continente devido à sua produção de cereais, e se tornou um país castigado pela fome.
A situação piorou a partir de 2000, quando o setor da agricultura, a espinha dorsal do país, entrou em queda livre
Ruína econômica
Desde que chegou ao poder, Mugabe viveu anos indiferente aos problemas nacionais. Enquanto os hospitais públicos estavam sem medicamentos ou equipamentos sanitários, Mugabe organizava festas milionárias para celebrar o seu aniversário.
Depois de 37 anos no poder, Mugabe criou um país onde mais de metade dos cerca de 16 milhões de cidadãos continuavam precisando de ajuda humanitária para enfrentar a fome e epidemias de cólera.
Atualmente, o Zimbábue atravessa sua pior crise econômica em uma década, com inflação de três dígitos, cortes no fornecimento de energia e escassez de itens essenciais e de dólares no mercado.