A médica sul-africana Nthabiseng Legoete tem chamado atenção de investidores internacionais por ter criado uma rede de clínicas que oferece atendimento de qualidade à preços acessíveis. A primeira clínica da rede Quali Health começou a funcionar em maio de 2016 na comunidade Diepsloot e hoje atende cerca de 3 mil pacientes por mês. Diepsloot fica na região norte de Joanesburgo, onde vivem cerca de 1 milhão de pessoas, a maioria é assalariada de baixa renda e carente de infraestrutura, eletricidade, saneamento básico e saúde.

“Nosso mercado-alvo é o formado por pessoas que atualmente dependem do sistema de saúde pública”, diz Legoete, que é natural de Springs, comunidade pobre a 50 km de Joanesburgo e profunda conhecedora da realidade de seu país. “Essas pessoas estão sendo forçadas a escolher entre ir ao trabalho ou fazer um exame de saúde. Isso significa que elas não precisam comprometer o trabalho para cuidar da saúde nem precisa comprometer a saúde para garantir o trabalho”. Ela lembra que em julho de 2015, seu tio faleceu após negligenciar um problema de saúde perfeitamente tratável porque ele não quis perder um dia de trabalho para ir à uma clínica pública.

A situação da saúde pública na África do Sul não é diferente da realidade de outros países em desenvolvimento. Apesar do País investir cerca de 9% do PIB em saúde, os investimentos públicos não conseguem atender a alta demanda por assistência médica. “Eu tive oportunidade de trabalhar tanto no setor público como no setor privado e por isso consigo entender os desafios nos dois setores”, revela. “O sistema de saúde privado funciona de forma eficiente e tem bons recursos, mas é muito caro. Já o sistema de saúde pública é o completo oposto. Tem poucos recursos, não é eficiente e é caracterizado por longas filas”, lamenta. “Nós estamos ampliando o setor de healthcare. Nós estamos tornando-o mais inclusivo e mais acessível e o governo não pode ser o único responsável por cuidar da saúde dos cidadãos”.

Segundo Legoete, a Quali Health foi pensada em três pilares: acessibilidade, conveniência e qualidade. O preço de uma consulta nas clínicas da rede custa o equivalente a 21 dólares e inclui exames, medicação e uma consulta de retorno, caso o paciente não esteja sentindo-se bem em 7 dias. “Quando você toma a decisão de cuidar da saúde você não tem ideia de que intervenções vai necessitar. Então fizemos um valor com tudo incluso”, explica. Além das consultas, as clínicas oferecem serviços de ultra som, aplicação de vacinas, pré-natal, verificação de pressão arterial e exames de sangue, como testes de HIV e de gravidez.

As clínicas são abertas 7 dias na semana, 12 horas por dia. Sistemas informatizados garantem um atendimento rápido — entre 20 e 30 minutos — e sem filas. A tecnologia também ajuda a monitorar os diagnósticos, facilitar os tratamentos e reduzir custos. “Somos um dos primeiros serviços de cuidado médicos com soluções paperless do país”, orgulha-se. “Também incentivamos nossa equipe a ser amigável com os pacientes, tratando-os como convidados”. Mas, segundo ela, o pilar mais importante é a qualidade. “O que tentamos fazer é restaurar a dignidade e o respeito a falta das pessoas de baixa renda”.

O modelo da Quali Health, que atualmente emprega cerca de 5.000 pessoas, está atraindo a atenção de investidores locais e estrangeiros interessados em prestar o serviço em todo o país e em outros locais. “Minha ambição é que todos os sul-africanos tenham acesso a cuidados de saúde de alta qualidade. Nós demonstramos que as comunidades economicamente marginalizadas podem ser servidas de forma sustentável. Nosso foco agora está em rápida escala”, acredita.

Sobre as críticas, Legoete é enfática. “Me falaram para construir algo mais sustentável ou usar a tecnologia de outra forma. Mas uma pessoa baleada ou que sofre um acidente de carro precisa de cuidados imediatos e não de uma Fitbit”, defende. “Estou fazendo diferença na vida das pessoas”.

Ao visitar a Índia, Nthabiseng Legoete viu pessoas sem seguro médico usando atendimento privado em um hospital em Bangalore. Para lançar algo semelhante em seu país natal ela pegou todas as suas economias e pediu dinheiro emprestado a amigos e familiares. Depois da primeira clínica, a médica e empresária buscou um financiamento do Banco de Desenvolvimento da África Austral (DBSA) para abrir outras três unidades ao redor de Joanesburgo.

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