Usar as tecnologias digitais para promover debates sérios e frutíferos sobre política e outras questões. Essa é a função do LAFA. Acrônimo para Leading Africa Forum-Angola, o projeto surgiu da mente do angolano Pedro Domingos Paposseco Manuel. Natural de Cazenga, um dos sete municípios que constituem a cidade de Luanda, Pedro teve a oportunidade de estudar fora e ampliar sua percepção de mundo. Agora, ele utiliza as redes sociais para empoderar a juventude e promover diálogos sobre o desenvolvimento do seu país.

Atualmente radicado nos Estados Unidos, Pedro idealizou o projeto na metade de 2018 ao conversar com os “irmãos  africanos”, como chama carinhosamente os colegas estudantes que vivem na diáspora. “Criei um projeto com dois amigos, um de Uganda e outro da Suazilândia. Queríamos unir estudantes africanos para conversas intergeracionais sobre assuntos relacionados à África”, lembra. “Conversar é muito bom mas, o que vem depois?. Daí imaginei que eu precisava fazer mais alguma coisa”.

A partir de então, Pedro resolveu reunir outros universitários de diversas áreas para ampliar os debates sobre as questões voltadas para o desenvolvimento do continente africano. “Tentamos fazer alguns encontros físicos. Como não estamos associados ao Estado, encontramos algumas barreiras institucionais. Então fomos para a Internet”, lembra.  

No dia 22 de dezembro de 2018 foi ao ar o primeiro Lafando, um talk-show transmitido ao vivo pelo Facebook. A cada transmissão, Pedro conversa com algum jovem pesquisador africano, que pode estar localizado em qualquer lugar do planeta. Os assuntos são variados. Os novos desafios cibernéticos, a implementação do Imposto de Valor Agregado (IVA) em Angola, a arte como expressão da cultura africana e a importância da mídia para a construção da cidadania são alguns dos assuntos já abordados.

Para escolher a pauta de cada transmissão, Pedro leva em consideração a relevância social. Também procura trazer pessoas inspiradoras. Em geral, são convidadas pessoas jovens, com princípios de liderança e sensíveis à questões sociais. “Procuramos fazer programas educativos e utilizar a jornada de vida do convidado para motivar os outros”, conta. “Para muitos de nós, faltaram modelos de vida positivos. Pessoas que poderiam nos inspirar. Por isso, procuro escolher convidados  jovens bem sucedidos na academia”.

Além das transmissões quinzenais pelo Facebook, o projeto LAFA agora está a realizar encontros fĩsicos. A ideia é prestigiar o povo angolano mais pobre. “Eu sei o que é ser jovem e não ter acesso a um computador”, explica.  “Queremos dar voz e vez aos jovens angolanos que estejam engajados em projetos, que estejam preocupados com as questões comunitárias”. Os primeiros encontros ocorreram em julho, em Cazenga, onde Pedro nasceu.

De Angola para o mundo

Pedro saiu de Angola pela primeira vez em 2013 para estudar na Noruega. Hoje, vive em Norman, em Oklahoma, onde estudou Administração Pública e Estudos internacionais. Agora, segue na vida acadêmica, cursando mestrado em Administração Pública. Contudo, ele pensa em voltar o quanto antes.  “Tenho um sentimento patriótico bem elevado. Por isso, sinto que sou mais útil lá que aqui. Eu gostaria de um dia terminar de estudar, ganhar experiência aqui e voltar para ajudar a sociedade a desenvolver-se”, revela.

Até lá, ele pretende fortalecer suas habilidades como comunicador. “Estou a aprender muito. No ano passado eu aprendi sobre social media. Nunca tinha feito uma transmissão ao vivo antes do Lafando. Fora o aspecto tecnológico, quero avançar em outras coisas, como me sentir mais à vontade com os convidados”.

A motivação para levar o projeto adiante, segundo ele, é garantir mais diversidade nos diálogos sobre o desenvolvimento da África e fugir do que é apresentado pela mídia tradicional. O jovem angolano também espera ampliar a qualidade do debate e trazer outros elementos ao que está sendo discutido pelos jovens do seu país. “Falta pluralidade nas vozes ouvidas. Há muitos jovens intelectuais que não têm nenhuma visibilidade”, acredita. “Eu havia notado que poucos angolanos faziam parte dos debates sobre questões africanas. Também deduzi que a língua servia como uma barreira para muitos conterrâneos e por isso muitos se voltavam para o que é produzido em Portugal”, lamenta.

Sobre o que quer fazer no futuro, Pedro revela que gostaria de ser um professor universitário. “Quero ser um indivíduo com capacidade para ajudar no desenvolvimento humano”, resume. Questionado se teria interesse em ingressar na política, Pedro garante que este não é o seu foco mas não descartaria a possibilidade de assumir cargos públicos. Por enquanto, tem interesse em formar novos líderes. ”Se eu for capaz de influenciar positivamente novos líderes, esses vão ser capazes de influenciar outros. Então, eu quero ser simplesmente um cidadão com capacidade de influenciar positivamente as pessoas”.

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