A demanda por uso de água no Brasil teve aumento estimado de 80% no total retirado nas últimas duas décadas, de acordo com um relatório publicado em dezembro de 2018 pela Agência Nacional das Águas (ANA). E a tendência é que essa demanda aumente. A previsão é de que até 2030 a retirada aumente 24%. O histórico da evolução dos usos da água está diretamente relacionado ao desenvolvimento econômico e ao processo de urbanização do País, segundo o mesmo estudo.

Por outro lado, o Brasil dispõe de 12 a 15% da água mundial. Essa água está presente basicamente em rios caudalosos, o que facilita sua captação, tratamento e uso. Apesar de toda essa disponibilidade, algumas regiões sofrem com crises hídricas constantes, seja por excesso ou por escassez, o que demonstra má administração e falta de conscientização ambiental. Contudo, uma crise hídrica ocorrida na maior metrópole do País e uma das maiores do mundo, acionou o botão vermelho do Estado e da população para essa problemática, chamando bastante atenção da mídia, das autoridades e da sociedade civil organizada. 

Imagem de Satélite, São Paulo Foto: Wikipedia

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Crise hídrica na maior cidade do Brasil 

Nos anos de 2014 e 2015 ocorreu uma crise hídrica que  impactou fortemente o Sistema Cantareira, que abastece quase metade da Região Metropolitana de São Paulo. Localizada em área de cabeceiras da Região Hidrográfica do Paraná, e a bacia do Rio Paraíba do Sul, é a maior aglomeração populacional do Brasil, com 21,5 milhões de habitantes. 

“Essa área está sob estresse hídrico permanente, o que demanda água de outras bacias e exige um esforço adicional de gestão da água”, explica o professor e pesquisador da Universidade de São Paulo (USP), Wagner Costa Ribeiro. Ele é um dos  organizadores do “Livro Branco da Água”, que reúne artigos de vários pesquisadores sobre a crise hídrica de 2014 em São Paulo. 

Nazaré Paulista/SP Data: 03/03/2018 Foto: Governo do Estado de São Paulo

Em entrevista a ATLANTICO ele aponta que diversos fatores levaram à crise. Ele destaca o modelo de gestão da água, que garante descontos maiores  para quem tiver um consumo elevado. Outras causas relacionadas a gestão, segundo ele, seriam as grandes perdas no sistema de distribuição, além de roubos na rede. Ribeiro também aponta alguns fatores naturais daquela região, que precisam ser levados em conta. “É fundamental lembrar que a cada 10 anos, em média, a estiagem assola a Região Metropolitana de São Paulo. Portanto, é de se esperar que ela possa ocorrer novamente. Por isso não dá para jogar a culpa na falta de chuva, já que ela ocorre com regularidade, como mostram diversas pesquisas.”

A interligação de reservatórios pode ser considerada um fator essencial para a superação da crise, assim como a contribuição da população, destaca professor Wagner Ribeiro. Ele dá exemplos de outras cidades onde campanhas de conscientização foram importantes como Sevilha, Barcelona, Madri e Nova York. 

Nos anos de 2014 e 2015 ocorreu uma crise hídrica que  impactou fortemente o Sistema Cantareira, que abastece quase metade da Região Metropolitana de São Paulo.

Nessas cidades, ações do governo incentivaram a troca de equipamentos hidráulicos por novos mais eficazes, recuperaram as áreas de mananciais por meio de reflorestamento (o que facilita o acúmulo de água e a ocorrência de chuvas locais) e também pagaram às populações que vivem em áreas com vegetação original para manterem suas propriedades com a floresta em pé, entre outras medidas. 

Ribeiro também destaca como solução a gestão fora da administração privada e na mãos do Estado – como acontece em Buenos Aires, Paris e Berlim – além de medidas como tratamento de esgoto e disposição adequada do lixo, para evitar que se tornem fonte de contaminação dos corpos de água.

Para o pesquisador da USP, o Brasil possui a água necessária para sanar os problemas de origem natural que são enfrentados, porém ele destaca outras ameaças. “O desrespeito à legislação resulta em contaminação de extensos rios na Amazônia por atividades de mineração. A ocupação de área de mananciais, associado ao uso intensivo de agrotóxicos que contamina rios e aquíferos, diminui a capacidade de reposição natural da água”,

Água e desastres naturais 

Estiagens, secas, enxurradas e inundações representam a grande maioria dos desastres naturais ocorridos no Brasil. Dos 5.570 municípios brasileiros, 2.680 (48%) decretaram Situação de Emergência ou Estado de Calamidade Pública devido a cheias pelo menos uma vez de 2003 a 2017. O mesmo acontece quando a seca ou estiagem, atinge cerca de 51% (2.839). Em torno de 89% (2.375) desses municípios localizam-se nas regiões Nordeste, Sul e Sudeste. 

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